Em 22/03/2012 às 19h31 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
Em entrevista concedida na manhã desta quinta-feira, 22, ao programa Conversa Franca, da Rádio Brilho, aos jornalistas Sousa Mendonça e Marcelo Lopes, os médicos João Sérgio Lougon Borges de Mattos e Joseph Freire, que trabalhavam no Pronto Cordis até a suspensão de suas atividades, falaram sobre a situação daquele hospital. Eles contaram detalhes sobre a gestão de Jaime Netto, explicaram sobre o funcionamento do Plancor, da Hemodinâmica e do Hospital São Lucas. Sem poupar críticas ao atual diretor daquele hospital João Sérgio e Joseph afirmaram que o Pronto Cordis não vai reabrir.
Com mais de duas horas de duração, a entrevista será publicada em duas etapas a fim de não cansar o leitor. A segunda e última parte você vai ler às oito horas desta sexta-feira, 23 de março de 2012.
Veja as principais intervenções dos entrevistados:
JOÃO SÉRGIO
"A Pronto Cordis está fechada. Não tem condições de reabrir. Ele não tem a menor intenção de reabrir, tanto é que ele já retirou de lá de dentro o consultório dele e da doutora Ana Rita."
"Esta crise do Pronto Cordis serviu para separar os homens dos meninos. Os homens continuam na briga e os meninos fugiram para cidades vizinhas, arrumaram emprego e estão tocando a vida deixando na mão oitenta famílias desempregadas, mil associados sem satisfação, nenhuma a ser dada. O pessoal pagou o plano durante vinte anos e não tem direito a mais nada. Está todo mundo perdido".
"Esta conversa de transferência para o Montei Sinai comprar, sempre foi uma conversa de boi dormir. Esta conversa não existiu. Eles queriam transferir os pacientes para fechar o hospital de madrugada como foi feito".
"É preciso que se diga aqui que a Vigilância Sanitária deu um prazo de sessenta dias para a solução do problema do lixo e da lavagem da roupa. O Hospital foi fechado não por pedido da Vigilância Sanitária. Foi fechado a pedido da diretoria. Ele teve um prazo para sanar estas dúvidas"...
"A atual gerente do Pronto Cordis, a Jeanine, é testemunha de quantas vezes eu solicitei uma reunião com o doutor Jaime Netto e doutora Ana Rita, para a gente tentar unir e levantar o Pronto Cordis".
"O sujeito chegava lá infartado e era atendido por um clínico geral, por um ortopedista, por um otorrino, pelo que fosse. Aí começou a desvirtuar a coisa e nós fomos perdendo pacientes. E se você perde paciente, consequentemente, você perde faturamento. Se perde faturamento, aumenta a dívida".
"Eu quis vender porque como sócio do Pronto Cordis fiquei totalmente enrolado com a Receita Federal devido a uma dívida que o Pronto Cordis tinha. E a maneira que eu tinha de sair desta dívida era deixar de ser sócio. Então vendi minha parte para o doutor Jaime Netto. Em troca ele pagaria umas prestações do aparelho da Hemodinâmica, que estava em meu nome"...
"As prestações que ele deveria ter pago em meu nome não foram pagas no Sicoob. Eu tive de ir lá e pagá-las para não ir de novo para o SPC. Eu tornei a pagar as prestações que ele ficou de pagar e não me falou nada. E, logicamente, estes cheques que ele teria que me dar a partir de fevereiro também não vão existir porque a clínica faliu e ele também não está honrando os compromissos dele".
"Continuo sócio do Pronto Cordis(...) Para que eu seja liberado pela Receita precisa sair uma publicação da primeira auditoria fiscal o que ainda não ocorreu. Quando isso acontecer os meus bens serão liberados como também os da dona Maria Helena. Enquanto isso o doutor Jaime está aí dizendo, coitado, que não tem um carro para andar. Que anda de motocicleta. Ele só não contou que a motocicleta não é uma Bis; é uma Harley Davidson".
"O Plancor é outra empresa, totalmente independente do Pronto Cordis. Atualmente o único dono é o excelentíssimo senhor doutor Jaime Afonso de Sousa Netto".
"O Paulinho que mora no Leonardo, foi motorista do Pronto Cordis, mais conhecido como Paulinho Passarinheiro, assinou uma divida como avalista do doutor Jaiminho no valor de vinte e nove mil reais que estourou na mão dele e ele foi conversar com o doutor Jaime Netto sobre como ele faria com isso. A resposta do Jaime Netto foi a seguinte: se vira. Ele vendeu a casa dele de morada para poder pagar a dívida para não ficar com os bens penhorados".
JOSEPH FREIRE
"Esta história do Pronto Cordis é angustiante. Fiquei calado durante cinco meses, desde o meu último incidente, o meu atrito com a diretoria técnica do Pronto Cordis, no dia 3 de novembro do ano passado".
"Quando se fala que os salários dos funcionários foram totalmente pagos existe um lapso nesta história; não é totalmente assim. Eu sou funcionário e realmente não recebi".
"Nós temos o Pronto Cordis, que é uma empresa; dentro dela funciona a Clínica São Lucas, que é outra empresa; funciona a hemodinâmica, que é outra empresa e o Plancor (...) São quatro empresas com responsáveis diferentes, com sócios diferentes e com situações bem diferentes uma da outra".
"Eu e o doutor João Sérgio fomos os últimos a sairmos do prédio. Isto é verdade realmente. Não só eu como o laboratório Pronto Lab, a Clínica Santa Lúcia".
"A Vigilância Sanitária não fechou o Hospital. A Vigilância foi convidada a fechar o hospital porque existiam duas irregularidades. Uma que não havia pago a empresa que, se não me engano, é a Pro-Ambiental, para recolher o lixo hospitalar. Ela suspendeu o serviço e começou a acumular lixo no fundo do hospital. Aí entrou a Promotoria. E o segundo passo é que a empresa que lavava roupa do hospital suspendeu as atividades porque havia um débito equivalente a vinte e dois mil reais e tal fato não poderia continuar".
"Antigamente, quando o paciente chegava lá ele tinha o direito de escolher qual médico o atendesse. Depois de agosto de 2011, baixou-se uma determinação da diretoria técnica que os pacientes que ali chegassem tinham que ser atendidos exclusivamente pelo médico plantonista".
"Tenho dois vínculos, sendo um com o Plancor e outro com o Pronto Cordis. Estou com pedido de rescisão indireta junto ao Fórum do Trabalho de Cataguases, porque existe uma série de salários atrasados, Fundo de Garantia, INSS, mais a parte de internações de convênios e de consultas de convênios".
"Reunimos um grupo de 28 pessoas para montar esta empresa, a Hemodinâmica Cataguases. Eu tinha uma cota lá. Destas vinte oitro cotas, o doutor Jaime Netto comprou catorze, só que não pagou nenhuma delas".
"O empréstimo para comprar a máquina foi de um milhão e e meio, sendo que a máquina custou oitocentos mil e os setecentos mil restantes foram utilizados na compra do gerador e custear as obras físicas para acolher a máquina e equipamentos".
"Não foram pagas as parcelas de outubro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro. Eu pagava a empresa e a empresa não repassava para o Sicoob" (as parcelas do financiamento da hemodinâmica).
"O doutor Jaime quis comprar cotas de outros médicos e ele apresentou uma conta que caberia a cada um dos sócios um valor de cinco mil reais que seriam pagos em cinco cheques de mil reais com início em fevereiro de 2012. Cheques que não foram honrados porque o hospital fechou no dia primeiro de fevereiro".
"As parcelas (da hemodinâmica) não foram pagas e totalizou uma dívida de cento e sessenta e oito mil reais junto ao Sicoob. Em janeiro último o banco negativou e executou os sócios, escolhendo aqueles que tinham maior patrimônio para pagar a dívida. Aí, sete sócios se uniram e pagaram a conta junto ao banco. Teve um desconto e o valor final, à vista, foi de cento e cinquenta mil reais. Estes mesmos sócios estão executando os demais através de um processo em tramitação na Segunda Varal Cível de Cataguases pedindo a dissolução e liquidação da sociedade".
"Esta atual diretoria nunca tentou conversar. Sempre agiu de forma autoritária, de forma arrogante, de forma arbitrária, de forma a fazer cumprir o que ela achava que deveria cumprir".