Em 03/03/2012 às 15h57 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22

Jaime Netto fala sobre as dificuldades enfrentadas pelo Pronto Cordis e nega negociação com outros hospitais


Desde o fechamento do Pronto Cordis, em 1º de fevereiro último, a população cataguasense aguardava uma explicação de Jaime Netto, seu diretor responsável, sobre o acontecimento. Daquele dia até este sábado, 3, pouco mais de um mês do fechamento provisório do hospital pela Gerência Regional de Saúde, Jaime Netto não havia falado oficialmente, o que só ocorreu agora, atendendo ao pedido do jornalista Marcelo Lopes, com quem manteve contato frequente ao longo deste período. Jaime Netto, aceitou falar no Programa Conversa Franca, da Rádio Brilho, apresentado pelo experiente radialista Sousa Mendonça, que começou às 10 horas e terminou pouco depois das 11:30 horas. O diretor do Pronto Cordis respondeu a todas as perguntas, inclusive as de cunho pessoal, com tranquilidade e segurança, reconheceu erros de administração no passado, inclusive de seu pai, e falou que até agora não há nenhuma negociação em andamento com pessoas ou empresas a respeito de uma possível aquisição do Pronto Cordis ou sua reabertura. Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista.
Motivo do Fechamento
"A interrupção temporária do hospital Pronto Cordis ocorreu no dia 26 de janeiro através de uma solicitação da Promotoria Pública do Município de Cataguasesque eu recebi como inquérito civil sobre problemas na minha lavanderia e no recolhimento de lixo. Todos foram pegos de surpresa, inclusive eu. E como diretor técnico, responsável legal por aquele hospital, me dirigi até a Vigilância e pedi esclarecimento sobre aquilo. Ela me disse que era um ato grave, gravíssimo e que medidas deveriam ser tomadas e que ela deveria, sim, interditar o hospital por um prazo de sessenta dias até que as soluções fossem tomadas e aí, sim, eles iriam reavaliar se poderiam reabilitar, reabrir o hospital baseado nas medidas que nós tomaríamos neste tempo pré-determinado por eles".
Má Administração
"...mas ele participou também de uma administração pautada muito na camaradagem, muito na amizade, no companheirismo, sem rigor técnico, coisa que eu não consigo conceber (...) A Administração durante todo este período, por ter uma característica familiar, foi extremamente falha na questão técnica, contábil, financeira. E quando assumi efetivamente, em março de 2010 (...), era uma administração pautada em muitos erros. E quando eu assumi, ela agravou-se, cresceu exponencialmente (...) Quis exigir o profissionalismo lá e esbarrei numa administração viciosa, frágil, insegura, com muitas falhas técnicas. E quando a gente age desta forma incomoda muitas pessoas (...) Não me arrependo. Faria 10 vezes se fosse preciso porque a minha visão e o meu objetivo é prestar um atendimento de qualidade para a população. E isto passa, essencialmente, por uma boa administração, o que nunca foi feito no Pronto Cordis, infelizmente".
Hospital São Lucas
"A minha mãe sempre teve o Hospital São Lucas no nome dela. Ela realmente é a proprietária do Hospital São Lucas que presta serviços ao Pronto Cordis (...) Ela sendo minha mãe eu vou estar ao lado dela até o fim e vou fazer tudo o que for possível e impossível para saldar qualquer tipo de dívida que exista. É o que eu disse: a administração foi altamente ineficiente durante todo este período."

Propriedade do imóvel onde funciona o Pronto Cordis
"O Pronto Cordis é dono de grande parte do terreno, mas não é a maior parte. A maior parte do terreno meu pai deixou em nome do meu irmão caçula, Bruno Cruz de Sousa que, depois, dividiu, se não me engano, com a minha irmã. Mas a maior parte do terreno é deles, que é a parte que diz respeito às internações. A parte útil do hospital, em que se movimenta, a UTI e o ambulatório e internações que são feitas essencialmente pelo SUS pertencem ao Hospital Pronto Cordis do qual eu sou o responsável legal."
Lavanderia e Lixo Hospitalar
"...eu trabalho diuturnamente, não durmo há mais de trinta dias tentando solucionar estes problemas. Inclusive, não tenho carro, e sim uma moto. Eu alienei esta moto para comprar uma máquina de lavar para a lavanderia hospitalar (...) Estávamos correndo atrás mediante uma crise gravíssima financeira que afetou a minha pessoa física, a minha esposa... Nós estávamos empenhados em solucionar, tanto é que a máquina já estava a caminho quando chegou este problema".
Corte no fornecimento de luz, água e telefone
"A situação é gravíssima. É muito bom que a gente esclareça isto para a população. A Energisa cortou o fornecimento de luz há mais de quinze dias, no mínimo. Nòs estamos funcionando com óleo diesel no hospital (...) Foi tentado um acordo com a Energisa e a princípio eles não aceitaram.

Participação do poder público
"Não houve sequer, em nenhum momento, eu friso: em nenhum momento, solidariedade nenhuma por parte do poder público. Então, se o hospital Pronto Cordis é um bem e representa alguma coisa para a sociedade eu acho que a hora é essa. Talvez tenha passado, não sei, mas eles tem que mobilizar se quiserem que o hospital volte (...) Esta história dois anos atrás de que o  Lael Varela viria pra cá é uma mentira. Nunca vi o Lael Varela, a não ser por foto (...) Eu procurei, sim, não só poder público, mas vários políticos e conversei com pessoas da área privada, empresários da regiao, para que investissem no hospital. Eles tiveram interesse, mas visam, objetivamente, o lucro. Acho muito mais viável neste momento o poder publico saber que o Pronto Cordis presta serviços de qualidade ao SUS".
Administração Municipal X Pronto Cordis
"Em momento algum o atual prefeito Willian Lobo cortou (recursos) absolutamente nada. Ele agiu corretamente com rigor (...) Governos anteriores prejudicaram, sim, vocês sabem. Na época de 97, 98, início do milênio, inúmeros repasses não foram feitos para o Hospital Pronto Cordis. Só para citar um número, em 1997, foram R$400 mil que não foram repassados do poder público municipal (governo Paulo Schelb). Depois dele tivemos a administração Maria Lúcia, Tarcísio, tivemos grandes dificuldades. O que o prefeito Willian poderia fazer e esta administração, é se solidarizar mais com a situação para, daqui pra frente, algo mais importante fosse feito para a cidade."
Funcionários
"Trabalho diuturnamente tentando reslver o problema dos meus funcionários, porque a princípio, e é bom que se deixe bem claro, eu não demiti nenhum funcionário (...) Os direitos trabalhistas estão todos garantidos dos funcionários. Houve um grande problema, recentemente, que o Sindicato dos Trabalhadores em Saúde entrou com uma medida cautelar bloqueando qualquer tipo de crédito do hospital Pronto Cordis. Então isto vai dificultar, e muito, a recuperação e o pagamento as folhas salariais destes funcionários (...) Quero deixar claro que os salários estão em dia, o décimo terceiro estava, sim, em atraso, mas nós estávamos lutando para pagar o décimo terceiro, porém, o Sindicato nos fez o favor de dificultar, e muito isto, esta situação, infelizmente."
Hemodinâmica
É uma perda para Cataguases este equipamento estar parado(...) Fui contra, à época, a instalação deste mesmo serviço no Hospital Cataguases e era claramente visível que dois serviços de hemodinâmica seriam inviáveis para o município de setenta mil habitantes (...) O grupo de pessoas que comprou a máquina de hemodinâmica assumiu um risco, assim como eu que assumi a maior parte do risco quando entrei. Cabe a eles fazerem de tudo para reativar a hemodinâmica e, por tabela, o hospital Pronto Cordis. Eu espero, inclusive, a solidariedade deles que ainda não recebi. (...) O equipamento da hemodinâmica continua lá no Pronto Cordis, bem como toda a estrutura física.

Plancor
A determinação da Agência Nacional de Saúde é a de que tudo continue como está. Ou seja: que as pessoas continuem cuprindo suas obrigações e nós, dentro do tempo hábil, consigamos recuperar o hospital para que o Plano consiga ter sobrevida. Agora, se o hospital não for recuperado, o Plano de Saúde, obviamente, ficará prejudicado. Se a Unimed se interessar, ou outro plano de saúde, poderemos vender a carteira de clientes. Se o hospital de Cataguases, através do HC Saúde, se interessar, nós estamos aqui. Já fizemos alguns contatos. São cerca de 1.300 pessoas que utilizam o Plancor (...) Apesar de ser uma empresa independente do Pronto Cordis, conseguimos fazer o Plancor uma empresa rentável, uma empresa que está caminhando para o lucro.
Solução para a crise
"A melhor saída, em primeiro lugar, é alguém me procurar para conversar. E até agora ninguém chegou até mim. Eu que fui até eles. Mas eu entendo que eles estão se sensibilizando. A partir daí, várias medidas podem ser tomadas. A gente pode sentar e conversar. Eu tenho certeza que vou facilitar, em tudo, para que eles estejam lá e façam o melhor e prestem o melhor trabalho para a sociedade. (...) Infelizmente nenhum grupo particular, nenhum grupo privado, público, ninguém me procurou. (...) O Pronto Cordis tem uma estrutura física sensacional para a nossa região, se quiser montar lá um Pronto Socorro, uma UPA... tem CTI, tem internação do SUS, basta o poder público querer. E nesse momento, mais que o privado, o público é essencial.




 
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