Patrícia, Celena, dona Arlete e Sueli, estão felizes por terem encontrado Célio mas querem também reencontrar Delizete e Eliane
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Dona Arlete, de 84 anos, pegou seu filho no colo pela última vez, quando ele tinha apenas 9 meses de idade. Depois, nunca mais o viu, até que uma amiga o localizou esta semana pela internet. Ela, agora, sonha em encontrar a outra filha, também dada para outra família pelo então marido, contra sua vontade, quando tinha um ano e meio de idade e sobre quem nunca mais teve notícia. História parecida tem a neta dela, Patrícia, de 28 anos, que não conhece a mãe, pois ela deixou a casa onde vivia com o marido, seu pai, quando ainda era um bebê, de um ano de idade, sem avisar para onde ia, e até hoje não voltou.
Mãe de 9 filhos, destes, três falecidos e dois entregues contra sua vontade pelo então marido - e pai de toda a prole - para serem criados por outras famílias, Arlete Bertolina de Jesus (foto ao lado), vive feliz com o seu terceiro companheiro, como ela mesmo define. Nas casas ao lado da sua de um bairro em Astolfo Dutra, vivem os outros quatro filhos e a neta Patrícia que lhe chama carinhosamente de mãe. Animada e alegre, seu lazer preferido é dançar forró, revela. Sua história é lembrada em detalhes com a ajuda da filha Celena Zidório, a mais dedicada em descobrir o paradeiro dos irmãos, acompanhada pela irmã Suely.
Segundo conta Celena com a confirmação da mãe, o pai dela deu o irmão para ser criado por outra família e, posteriormente a irmã, porque estava nascendo mais filhos do casal e não havia condições de criar a todos. "Minha mãe tinha filho todo ano", ressalta, sendo interrompida por dona Arleta para dizer que se tivesse sido consultada não teria deixado o marido fazer aquilo com os filhos. O primeiro, Célio Zidório, foi dado para uma família em Cataguases, onde então, eles moravam. "A gente vivia na Vila Minalda e meu pai deu ele (sic) pra essa família que morava perto da gente. Depois eles foram pra Brasília e a gente perdeu o contato", lembra Celena.
No ano seguinte, morando no Rio de Janeiro, para onde tinha se transferido em busca de uma vida melhor, conforme conta dona Arlete, o marido entregou a filha Delizete Zidório, então com um ano e meio de idade, para ser criada por outra família. Desde então, nunca mais tiveram notícias dela, conforme conta Celena (foto ao lado), acrescentando que atualmente ela está com 45 anos de idade. "Meu sonho é reencontrar também a minha filha" diz dona Arlete, "será a maior felicidade da minha vida, rever os meus dois filhos", completou. A família que adotou Célio manteve o seu nome de batismo em seu registro, disse Celena, "o que facilitou encontrá-lo, e se isso tiver acontecido também com Delizete, nós iremos achá-la", afirma com sorriso no rosto.
FILHO ENCONTRADO Apesar de ter alimentado durante quase cinquenta anos o sonho de encontrar o filho que lhe foi tirado dos braços, dona Arlete jamais podia imaginar que localizá-lo estava apenas alguns cliques do mouse do computador. E tudo aconteceu meio que por acaso, durante uma conversa entre paciente e fisioterapeuta. Celena foi tratar uma dor no pulso com uma profissional sua amiga e lhe contava a história, ressaltando o quanto queria, juntamente com sua mãe, também reencontrar os irmãos.
A fisioterapeuta, Camila Souza, não só disse que atualmente isso podia ser simples como se dispôs a ajudar. Pediu o nome completo do irmão de Celena e depois que a amiga foi embora, iniciou a busca no Facebook. Minutos depois mandou uma mensagem para Celena dando-lhe uma notícia que ela acreditava ser muito boa. Com um misto de desconfiança e de esperança, Celena acessou a página cujo nome e sobrenome era o mesmo de seu irmão, resolveu adicioná-lo como amigo e o chamou para conversar inbox. Bate papo aceito, minutos depois veio a confirmação: Estava mesmo conversando com o irmão que tanto procurava. "Ele quis falar com a mãe na mesma hora", disse ela acrescentando que a emoção foi tamanha que não sabia o que fazer.
O reencontro com a família finalmente vai acontecer após 46 anos, no dia 14 de abril, em plena Sexta-Feira da Paixão, em Astolfo Dutra, quando Célio Zidório (fotos acima e ao lado), virá a Cataguases conhecer sua mãe biológica e seus irmãos. Ele mora em Brasília onde se formou em História e Cultura Afro-Brasileira. Celim do Batuk, como é conhecido, criou o Grupo Cultural Batukenjé, na Finlândia, em 2006, que atua também em Brasília, estimulando a prática do canto e da dança, agregando elementos marcantes da cultura brasileira Afro Contemporânea. Tem um trabalho voltado para a música e cultura, onde é reconhecido no meio e já tocou, entre outros, com Carlinhos Brown. Radiante por ter localizado o filho, dona Arlete abre o coração: "Vivo muito sofrida com essa história e não sei se vou aguentar essa barra. No dia que encontrá-lo é capaz de até morrer de emoção", diz.
A HISTÓRIA SE REPETE
A neta, Patrícia da Silva Zidório, 28 anos, também vive drama parecido com o da avó. Ela foi deixada pela mãe que saiu de casa quando tinha um ano de idade e ficou apenas com o seu pai, Reginaldo, filho de Dona Arlete. Patrícia não se lembra da mãe e nunca mais teve notícias dela. O que sabe a seu respeito é que ela, ao sair de casa levou seu meio irmão, fruto de outro relacionamento, e o seu nome: Eliane da Silva Garcia. Além disso há uma enorme vontade de reencontrá-la "porque, por menor que tenha sido a convivência, a gente tem sempre uma pergunta, né?, diz, afirmando não guardar nenhuma mágoa, mas sim um desejo "muito grande de reencontrar a minha mãe", salientou.
Quando Eliane a deixou, a família morava em Astolfo Dutra e o pai de Patrícia até tentou reencontrar a esposa, mas em vão. "Ela saiu de manhã e só avisou aos vizinhos", lembra Celena, sua tia, que presenciou toda a história. "Meu pai tentou localizá-la no Rio de Janeiro, alguns dias depois, para onde disseram que ela teria ido, mas não a encontrou e também no Espírito Santo, estado onde mora sua família, mas nunca conseguiu notícia dela", revela a filha com voz tranquila. Patrícia (foto ao lado) conta que a avó, dona Arlete, a criou junto com o pai, Reginaldo, e por isso a chama de mãe, e recebeu dela todo o carinho e dedicação. Mas algo dentro dela, diz, parece não se encaixar enquanto não conhecer sua mãe. "Estou disposta a encontrá-la para que possamos estabelecer laços", completa com esperança de que sua história tenha o mesmo final feliz de dona Arlete.
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