Os resultados da pesquisa foram divulgados durante uma mesa redonda no CATS, realizado em outubro de 2016
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A arquiteta Elisabete Kropf promove gratuitamente várias palestras em escolas do ensino médio de Cataguases, públicas e privadas, e também na FIC (Faculdades Integradas de Cataguases) com o tema "Preservação do Patrimônio Cultural de Cataguases: O turismo sustentável e os bens modernistas tombados". A iniciativa é parte do Projeto CATS - Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade, do qual ela é fundadora e coordenadora geral há vários anos - sendo que a última edição do evento aconteceu em outubro de 2016. O Congresso é executado através Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, com o patrocínio das empresas Energisa, Zollern e Bauminas.
Elisabete conta que durante suas palestras ela apresenta aos alunos um pequeno histórico sobre a fundação de Cataguases, seus monumentos tombados pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), explicando temas como patrimônio, preservação, tombamento, histórico e conceituação do turismo, entre outros. "Em 2016, antes das palestras, realizei uma pesquisa para saber o grau de conhecimento desses alunos em relação a tombamento e preservação dos imóveis tombados da cidade. A pesquisa foi elaborada em parceria com a FIC, através dos professores Thiago Bittencourt e Bruno Carlos Alves Pinheiro, e das alunas Roberta Vargas, Raquel Reis, Tays Costa e Débora Silva, além da empresa Auctor", conta a arquiteta.
Segundo ela, os resultados, bastantes surpreendentes, foram divulgados durante a mesa redonda "Cataguases e o Modernismo: Cultura, Identidade e Patrimônio - Desafios e Perspectivas para a sua Preservação", no segundo dia da última edição do congresso, realizado em outubro do ano passado. Participaram dela, além de Elisabete, Célia Corsino (museóloga e superintendente do IPHAN-MG), Soraia Farias (arquiteta e diretora de conservação e restauração do IEPHA-MG) e Marcos Olender (arquiteto e professor da UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora).
Os resultados A arquiteta Elisabete Kropf entrevistou 1654 alunos do ensino médio, sendo 1425 de escolas públicas e 229 de particulares, a grande maioria moradoras de Cataguases há mais de 10 anos, sendo que 59% do público pesquisado era do sexo feminino. Segundo ela, 88% dos estudantes pesquisados sabiam que na cidade há algum prédio tombado, sendo o Cine Edgard e o Colégio Cataguases os imóveis mais mencionados. "Quando perguntamos sobre quais residências os alunos conheciamm como tombadas, 35% dos alunos das escolas públicas e 20% das particulares não tinham conhecimento de nenhum imóvel particular tombado. Uma vez que a maioria relatou que estuda na cidade desde o ensino básico, isso nos faz refletir se a educação patrimonial no ensino básico está mesmo funcionando", observa.
Para ela, "como a grande parcela dos alunos desconhece alguma residência tombada, e como as casas não possuem placas de identificação, fica mesmo difícil para a população perceber que aquele determinado imóvel é tombado". Outro dado significativo surgiu quando foi perguntado aos alunos sobre a finalidade do IPHAN.
Segundo Elisabete, 70% deles entendem que o instituto ajuda a preservar o patrimônio, enquanto que menos de 40% sabe que ele é o responsável pelos tombamentos. Mas 20% dos alunos de escolas públicas e 14% de alunos das instituições particulares sequer sabem o que é o IPHAN. "Isso nos faz pensar sobre como poderíamos considerar esses mesmos percentuais a respeito do IPHAN em relação às famílias destes estudantes ou mesmo como seriam os resultados desta mesma pergunta entre os alunos do ensino básico", analisa.
A pesquisa da arquiteta Elisabete Kropf também mostra a relação dos estudantes com o turismo patrimonial. O tema surgiu quando foi perguntado aos alunos o que eles achavam sobre Cataguases receber turistas de outras cidades para conhecer os imóveis tombados. A grande maioria (mais de 80%) acredita que o movimento destes turistas ajuda na economia local.
Essa mesma pesquisa foi aplicada também para 450 alunos de graduação da FIC, e os resultados foram ainda mais preocupantes, segundo a arquiteta. "Ficou demonstrado que 15% dos alunos de nível superior não conhece nenhum dos prédios tombados apresentados e 49% não conhece nem mesmo o Colégio Cataguases", conta ela, acrescentando que "este dado nos preocupa e faz refletir se existe educação, divulgação e identificação adequadas dos patrimônios de Cataguases para os alunos de nível superior e para moradores de outras cidades que frequentam as faculdades da cidade".
A mesma pergunta feita aos alunos do ensino médio sobre a finalidade do IPHAN foi repetida para os estudantes da FIC. Os resultados, segundo Elisabete, apontaram que a porcentagem dos que acham que o IPHAN prejudica a cidade (7%) é mais de três vezes maior que a do ensino médio (2%), e os que acham que ele ajuda a cidade (65%) é 6% inferior ao que responderam os estudantes do ensino médio (71%).
"A gente pode concluir com esses dados que os alunos que estudam na FIC e que não moram em Cataguases não têm o mínimo de conhecimento a respeito da cidade e seu tombamento, usando a cidade sem conhecê-la. E também, à medida em que há um aumento na idade dos alunos, comparando-se ensino médio e alunos da FIC, o conceito em relação ao IPHAN piora. Acredito que isso ocorra pelo fato de esses alunos já terem tido alguma experiência com o instituto ou terem tido conhecimento de alguém que já tenha tido, e que tenha ficado insatisfeito com essa relação", observa Elisabete.
Para ela, esta pesquisa teve como principal meta alertar a sociedade e também o poder público para que sejam implementados programas e projetos eficazes destinados à preservação da cidade, incorporando suas potencialidades turísticas e de desenvolvimento sustentável, com o envolvimento das três esferas de governo, as entidades representativas e a participação cidadã. "É necessário acercar a população do meio em que ela vive, fazer com que as pessoas conheçam a história de sua cidade, e que, a partir daí tenham pertencimento por ela, além de socializar a necessidade das ações referentes ao patrimônio e os benefícios sociais e econômicos que podem trazer", lembra a arquiteta, para quem cultura e turismo podem ser geradores de emprego e renda, "permitindo a criação de amplo espectro de atividades fomentadoras de trabalho em diversos setores como a prestação de serviços, o turismo e o lazer, e que encontra no patrimônio histórico um de seus principais pilares de atratividade".
Segundo a arquiteta Elisabete Kropf, o patrimônio, a cultura e a memória de uma cidade são traduzidos em inúmeras formas, desenhos e elementos urbanos. "Viver em contato com estes elementos permite construir o legado cultural e a sensação de continuidade, sem deixar de vivenciar o presente", finaliza. A apresentação completa da pesquisa pode ser encontrada no site do www.catscataguases.com.br
O CATS é um projeto executado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, patrocinado pela Energisa, Zollern e Bauminas.
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