Wesley Lopes conquistou medalha de bronze na Olimpíada de Matemática em 2015
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Está na lista: Wesley Lopes, Escola Estadual Maria Auxiliadora Faria, Muriaé, Minas Gerais. Ele é um dos 4.501 medalhistas de bronze da edição de 2015 da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), que começou com quase 18 milhões de estudantes inscritos. Sendo conquista de um garoto inteligente e dedicado aos estudos, a premiação seria digna do orgulho da família e até da população da cidade. Mas Wesley tem uma condição diferente: está preso desde 2013 para cumprir uma pena de quatro anos e 10 meses de reclusão.
A notícia chegou à Penitenciária de Muriaé, no fim de novembro, por meio de duas cartas. Uma para a direção da escola da unidade prisional e outra para Wesley. Em ambas, depois dos parabéns de praxe, o convite para a inscrição no Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC) da Obmep, destinado aos medalhistas de ouro, prata e bronze.
Trata-se de uma espécie de curso de aprofundamento em Matemática aplicado por meio de fóruns à distância, com um encontro presencial por mês, em que estão envolvidos professores das melhores universidades brasileiras. Em Minas Gerais, por exemplo, há representantes dos Departamentos de Matemática de todas as universidades federais instaladas no Estado e também da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).
A inscrição no programa também dá direito a uma bolsa mensal de R$ 100, que é o valor padrão em programas de iniciação científica júnior. Mas não é a quantia que importa e sim a chancela de Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CPNPq).
Oportunidade
Até o fim de fevereiro, data limite para a inscrição, o caso terá que ser examinado pela Justiça, uma vez que, para participar do PIC, Wesley precisará não só de acesso periódico à internet, mas também de uma conta de e-mail, o que normalmente é negado a presos. Até lá, esse rapaz de 20 anos de idade terá tempo de refletir sobre a oportunidade que se abriu em sua vida graças ao próprio talento e ao estímulo da professora Ana Paula Machado Paschoal.
Filho de uma ajudante de cozinha e criado pelo padrasto, um aposentado, Wesley morava na zona rural da vizinha Carangola quando foi preso. Tinha acabado de completar 18 anos de idade e havia saído da escola sem concluir a 7ª série, quatro anos antes. "Desanimei por que não via futuro nos estudos. Não acreditava que poderia melhorar minha vida", conta.
Condenado, depois de uma passagem de seis meses pelo Presídio de Carangola, Wesley foi transferido para a penitenciária. Foi lá que teve a segunda chance de estudar. Em 2015, fechou o ciclo da 6ª e 7ª séries, o que lhe permitirá concluir o Ensino Fundamental no ano que vem. Segundo ele, Matemática sempre foi a área em que se saiu melhor, mas nunca lhe passou pela cabeça a ideia de superar numa competição milhões de estudantes do Brasil inteiro.
"A Paula trouxe provas de outros anos da Obmep pra gente fazer. Eu estudei, fiz os exercícios, achei que tinha ido bem na prova, mas não esperava ganhar medalha", conta o detento. Com quatro anos de experiência no magistério, todos dedicados à Escola Estadual Maria Auxiliadora Faria, a professora Paula diz que o desempenho na Obmep de Wesley foi um prêmio à dedicação do aluno em todas as disciplinas, não só na Matemática.
"Cerca de 180 alunos da escola, sendo 100 das minhas turmas, participaram da olimpíada e só três foram para a segunda fase. O Wesley, desde o começo, veio me pedir mais material para estudar, fazia todos esses exercícios extras e pedia para eu corrigir. Ele mereceu", afirma a professora.
Realização
A Obmep é realizada anualmente pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), com apoio da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) e recursos financeiros do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC). A competição é destinada a alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Dá prêmios também para professores, escolas e secretarias municipais de educação. Em 2015, a Obmep completou 11 edições. (Foto: Carlos Alberto/ Imprensa MG)
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