Joaquim Branco entre seus poemas visuais: impacto aos olhos de quem vê e atualidade
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Que tal juntar poesia provocante em um ambiente de descontração como de um bar? Esta foi a proposta do professor, escritor e poeta Joaquim Branco ao inaugurar a "Expoemas", uma mostra de sua produção de poemas gráficos, na galeria do Bar D’Angelo, na noite de sábado , 5 de dezembro. Num clima bastante descontraído, Joaquim bateu um papo com Samuel Pereira, do Site Marcelo Lopes:
ML - Como surgiu a idéia da exposição? JB - Recebi o convite do Ângelo (Zorzi), a idéia foi dele, eu não pude na época, ai o Ronaldo (Werneck) expôs primeiro, mas o convite me inquietou porque é uma forma do poema sair do livro e ocupar espaços populares como a galeria de um bar. Vale à pena porque o poema visual pede uma estrutura, um processo de visualização grande que o livro não tem. E aqui o poema solta, e um briga com outro, ou se completam.
ML - O que te inspira, Joaquim?
JB - O cotidiano. É um segredo! Como é que as outras pessoas não inspiram? Pra mim tudo que vejo me toca e eu transformo em poema. É impressionante, tudo que eu vejo, escrevo; seja poema tradicional, ou poemas visuais. Um exemplo é aquele poema "Manhattan". Eu fiz ao ler sobre a quebra da bolsa de Wall Street. O poema ocupa Manhattan inspirado na campanha de estudantes "Ocupe Wall Street", ai pensei: Eu vou ocupar Manhattan com poema, que é mais forte que qualquer presença. Outro poema que surgiu de um fato interessante foi "As Crateras da Lua". O pedreiro estava fazendo uma obra lá em casa e, de repente, jogou a massa na parede com tamanha violência, tamanha força! Eu fotografei a parede e percebi que aquela massa em chapisco pareciam as crateras da lua. Quem sabe as crateras da lua por uma pá de pedreiro. Usei a palavra escrita com P maiúsculo para remeter a Deus como pedreiro criador do universo.
ML - Você tem preferência entre a poesia visual e a textual? JB - Não! Cada situação pede uma forma. Não tem como escolher. Em algumas situações a imagem vale mais que muitas palavras. É como neste poema "Homem Cérebro", não há palavras.
ML - O poema "Vale quanto pesa" foi escrito em 1994, e hoje, depois do acidente da empresa em Mariana ele se mostra tão atual.
JB - Sim, ele foi feito quando a Vale do Rio Doce foi vendida, no Governo FHC. Para você ver como o poema ganha outras conotações. Essa linha, na minha produção, era a linha férrea, o trenzinho levando o dinheiro da Vale para o exterior, hoje ela pode ser percebida como o Rio Doce que vai sumindo e o dinheiro descendo. Para ver como o poema pode ter muitas faces.
ML - Sua obra gráfica é repleta de crítica social. Como no "Povoema".
JB - "Povoema" é sempre atual. É o povo sendo pressionado por todos os lados, e tentando eclodir com um grito que não é de gente, é um grito de fera.
ML - Recentemente você lançou "Pequena História da Fundação de Cataguases". Você tem previsão de lançamento de outros livros?
JB - Estou com dois livros prontos para lançar. Mas não vou lançar agora, eu gosto de lançar um a cada ano. Vou deixar um deles pro ano que vem. Um deles é sobre os contos de Machado de Assis, e o outro sobre minhas críticas literárias. (Fotos Samuel Pereira)
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