Impactante. Chocante. Inquietante. Estas três palavras não definem o curta Mácula, de Rafael Aguiar, que estreou nesta sexta-feira, 22 de maio, às 19 horas, no Centro Cultural Humberto Mauro, em Cataguases, mas dão a exata dimensão do que ele produz no espectador, que está sentado na poltrona, até então, confortavelmente. O curta, com duração de cerca de vinte minutos, é um soco no estômago, ao mesmo tempo que traduz em imagem o desejo, talvez de grande parte da população, sobre que tipo de tratamento deve ser dado a estupradores: a tortura.

Rafael usou uma ideia muito simples e até certo ponto, utilizada com frequência pelo cinema, para ir além e mostrar o que um ser humano comum faria com alguém que estuprasse sua esposa, ou namorada, por exemplo. É aí que o cineasta cataguasense faz sua obra atingir em cheio o espectador. Fazer justiça com as próprias mãos tem dessas coisas. Pode aliviar e ser uma punição exemplar para quem a pratica, mas jamais será algo palatável de se ver sendo colocada em prática. Dói em quem assiste tanto quanto naquele que recebe os golpes no próprio corpo. Por isso, talvez, o silêncio quase sepulcral da plateia após a exibição.

Com este seu mais novo filme, "totalmente independente" e feito com recursos obtidos junto de amigos e da sua família, Rafael confirma sua disposição de continuar investindo (e acreditando) no Cinema em Cataguases. Persistente e visionário, ele conhece muito bem as dificuldades para colocar na tela uma obra seja ela longa ou curta metragem. Mas Rafael é daqueles que só sabem fazer o que gosta. E faz com grande talento e sensibilidade que quem vê um de seus filmes não entende como ainda não apareceu ninguém para lhe dar uma chance melhor, ou para usar a linguagem do cinema, uma produção profissional que é o que lhe falta para dar um salto em qualidade. A hora dele vai chegar, claro. Mas enquanto isso, o público de Cataguases é o único a ter o privilégio de ver seus filmes, cada dia melhores.