Ao centro, Núbia Rosa, aluna classificada para a semifinal da Olimpíada de Língua Portuguesa
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A Escola Estadual Professor Quaresma, que funciona no bairro Taquara Preta, está comemorando uma grande vitória. É que na edição deste ano da Olimpíada de Língua Portuguesa, a aluna do 1º ano do Ensino Médio, Núbia Rosa Inocêncio Moreira, está classificada para a semifinal da Olimpíada na categoria crônica. O evento envolve somente escolas públicas de todo o país e acontece a cada dois anos.
Após a classificação na etapa municipal e estadual, a aluna e seu professor Leonardo de Paula Campos estarão nos dias 10, 11 e 12 de novembro de 2014 em Porto Alegre/RS recebendo a premiação, participando de oficinas literárias e de atividades de formação docente. Estas oficinas reunirão os 125 professores e 125 alunos semifinalistas de todo o Brasil na categoria Crônica.
A organização da Olimpíada de Língua Portuguesa enviou ainda uma faixa parabenizando a Escola Estadual Professor Quaresma, onde todos estão super felizes pelo trabalho da equipe docente e esforço de seus alunos. Para Leonardo a conquista é resultado da "seriedade e eficiência de um trabalho de longo prazo e que agora começa a frutificar". Já Núbia, disse não esperava o excelente resultado, mas feliz com a notícia, disse chegou a este nível da competição graças aos ensinamentos de seu professor Leonardo Campos, a quem agradece todo o apoio e orientação recebidos.
Veja, abaixo, a crônica de Núbia Rosa, que a levou para a semifinal da Olimpíada de Língua Portuguesa.
O quarto vermelho
Toda vez que abro a porta, com aquela madeira pesada e suas dobradiças barulhentas, eu me lembro de quantas vezes meu amor atravessou ali. Poucas, na verdade, mas o suficiente para serem inesquecíveis, todas elas. Por isso, meu bairro, minha casa e meu quarto hoje são mais silenciosos. O lugar onde vivo é mais dentro de mim.
Eu fixo os olhos na cama, a cama cor de marfim, da cor do sol, sol que não vejo faz tempo, ao olhar para dentro daquele quarto vermelho: meu lugar de viver, de sentir.
No quarto, me assusto ao olhar no espelho, ao lado do quadro que sorriem, eu e você. E penso. Em que me tornei?
Meu sorriso no espelho não encontra mais as bonecas caídas no chão; na verdade, meus sorrisos choram desesperados comigo, pois presenciaram todas as vezes que me avô esteve na minha casa, no meu quarto vermelho, no meu lugar de viver. E me pergunto, por qual razão a cortina não balança mais? Não venta? Será que o mundo lá fora parou, como meu peito? Não percebo.
Fiquei tanto tempo na minha casa, com meus pais, meus irmãos e por causa da lembrança de meu avô, que ali vivia, já nem me lembro que dia é hoje. Olho o calendário pregado na parede, ora, ele também parece vermelho, cor de sangue, cor de amor.
Deus, por que então tudo aqui onde moro é vermelho? Só cair uma lágrima na fronha também avermelhada e eu me lembro que a cor do nosso amor foi e é sempre vermelha. E foi alegre, foi vibrante.
Me viro e de frente pro criado outra lágrima cai, e que lindo seu sorriso no porta-retratos, cor do sol. Onde está o sol?
A janela está fechada. Como sempre fechada. O meu quarto, vermelho, está do jeito que você deixou quando se foi, quando se foi e não voltou.
A morte, porém, é vermelha?
O quarto deveria ter mais coisas que lembre quão grande avô foi para mim. E durmo pensando quando me fazia o seu sorriso vermelho, aqueles lábios contagiantes, distante hoje, porém, sempre vermelho. (Núbia Rosa Inocêncio Moreira)
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