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Temos que dar crédito aos gamers de PC. Apesar de todas as dificuldades e atribulações dos últimos anos, com vendas de PCs despencando, a transição do mercado de massa para os dispositivos móveis, o fiasco do Windows RT, etc, os gamers eram uma das poucas fundações nas quais a Microsoft podia confiar. Praticamente todos os grandes jogos para PCs rodam no Windows, e muitos deles rodam apenas no Windows.
E isso é importante. Em agosto a Jon Peddie Research estimou que apenas um jogo, ARMA III da Bohemia Interactive, iria gerar por si só mais de US$ 800 milhões em vendas de hardware para PCs, e a empresa estima que o mercado total de hardware para jogos no PC chegue a quase US$ 18 bilhões em 2013. Isso é muito dinheiro, e quase todo ele é investido em máquinas com Windows.
Mas subitamente este domínio parece ameaçado.
Na semana passada a Valve lançou um ataque a um dos principais bastiões do Windows com o anúncio do SteamOS, um sistema operacional gratuito baseado em Linux e construído ao redor do Steam, o mais popular serviço de distribuição online de jogos no mundo. E se há uma empresa que tem a força para mudar o mercado de jogos de PCs rumo ao Linux, essa empresa é a Valve.
Uma rebelião lenta
A boa notícia para a Microsoft: o Windows ainda será o principal destino dos jogadores de PCs por um tempo.
O SteamOS foi criado para uso no que a Valve chama de "Steam Boxes", PCs projetados para o uso na sala de estar e para desafiar o domínio dos consoles de videogame sobre a maior tela da casa. Não são computadores ultrapoderosos para jogos construídos por entusiastas. O SteamOS foi feito pensando em gamepads e no modo "Big Picture" do Steam (uma interface para facilitar o uso na TV), em vez de teclados e mouse, e o mais importante: elimina o custo de uma licença do Windows, que é uma grande despesa no mundo competitivo da sala de estar.
"Creio que é importante entender que a vasta maioria dos gamers considera ‘jogar no PC’ como algo onde a tela está a poucos centímetros do jogador", diz Ted Pollak, analista sênior na indústria de jogos da Jon Peddie Research. "Jogar sentado no sofá é ‘jogar num console’, e é nesse segmento que a Valve está de olho com as Steam Boxes".
Além disso, os jogos no Linux ainda estão engatinhando, e boa parte deles envolve o uso de tecnologias como o WINE para rodar as versões Windows dos games. O próprio Steam para Linux suporta atualmente apenas cerca de 200 jogos. A maioria deles títulos da Valve ou de produtores independentes, e poucos tem o suporte completo a gamepads de que o SteamOS necessita. De fato, um dos destaques do SteamOS será o uso de uma tecnologia Wi-Fi proprietária para transmitir, via streaming, um dos quase 3.000 jogos do Steam rodando em um PC com Windows para a sua Steam Box na sala de estar.
"Acredito que o desafio da Valve será conseguir que os jogos sejam adaptados para seu sistema", diz o próprio Jon Peddie. Claro que eles podem começar com seus próprios jogos, mas por mais interessantes que eles sejam, ainda é uma coleção pequena". Além do Steam, a Valve criou séries lendárias no PC como Portal, Half-Life, Team Fortress, Counter Strike e Left 4 Dead.
Por enquanto o Windows ainda está firmemente entocado. Ainda assim...
Uma ameaça à espreita
Embora as Steam Boxes não sejam uma ameaça imediata à supremacia da Microsoft, o amor que os jogadores de PC tem pelo Steam é forte, e se o SteamOS ganhar popularidade, o amor da Valve pelo Linux pode se infiltrar na fortaleza de jogos do Windows.
"Talvez mais importante que a questão ‘console vs. PC’ é que o movimento da Valve rumo ao Linux elimine o Windows da jogada", diz Pollak. "Será que os desenvolvedores irão criar, e as pessoas irão jogar, no desktop jogos otimizados para Linux?"
Essa idéia acabou de receber um grande impulso. Na semana passada a AMD anunciou a "Mantle", uma nova interface de programação multiplataforma e de baixo nível para o desenvolvimento de jogos (leia: um substituto do DirectX), projetada para extrair excelente desempenho das GPUs AMD baseadas na arquitetura GCN (como as recém anunciadas Radeon Série 7 e Série 9) , incluindo as usadas nos consoles de próxima geração como o Xbox One e o PlayStation 4 e em PCs.
Isto pode render benefícios imediatos para o SteamOS se a tecnologia se tornar popular entre os desenvolvedores de jogos, especialmente considerando que as Steam Boxes parecem ser um alvo natural para as conversões de jogos de console. A EA já demostrou seu apoio, declarando que o aguardado jogo de tiro Battlefield 4, baseado na nova engine Frostbite 3, será o primeiro a usar Mantle.
A Valve diz que devemos "aguardar nas próximas semanas anúncios sobre todos os jogos AAA que ganharão uma versão nativa para o SteamOS em 2014".
Outras pedras fundamentais estão sendo colocadas. Tanto a AMD quanto a Nvidia anunciaram um melhor suporte ao Linux com seus drivers assim que o SteamOS foi anunciado, e a Intel vem trabalhando com a Valve para melhorar o desempenho dos drivers das GPUs integradas aos seus novos processadores. A Valve diz que múltiplas Steam Boxes baseadas no SteamOS, de múltiplos fabricantes, serão lançadas em 2014, embora nenhum nome tenha sido explicitamente mencionado e preços não tenham sido anunciados.
Entretendo os entusiastas
Mas além do suporte do ecossistema, o SteamOS e o Steam para Linux também podem atrair os entusiastas do PC que sentem a necessidade de extrair o máximo de desempenho possível de suas máquinas e jogos.
Quando anunciou o SteamOS a Valve disse que "conseguiu ganhos significativos de desempenho no processamento gráfico" e que estava trabalhando no aprimoramento do áudio. Isso faz sentido. Em agosto a empresa disse que a versão nativa para Linux de Left 4 Dead 2 rodava mais rápido que a versão Windows na mesma máquina, por causa de mais "eficiência no kernel e OpenGL". Menos sobrecarga no sistema operacional e nas APIs significa mais quadros por segundo no jogo, um discurso atraente para os loucos por desempenho.
"Muitas pessoas acreditam que o Windows prejudica o desempenho do hardware dos PCs", diz Pollak. "Ainda assim os gamers de PC historicamente podem desfrutar de mais desempenho do que nos consoles. Se a maior eficiência no processamento for provada, o esforço na adoção do Linux pode ganhar o apoio dos jogadores de desktop".
Louco como um headcrab
Sim, parece loucura enfrentar diretamente o Xbox e o PlayStation na sala de estar, e sim, desafiar o domínio do Windows entre os PCs será uma árdua e intensa batalha. Mas não se esqueçam de que pedir um login no Steam para jogar Half-Life 2 vários anos atrás também foi considerado como uma loucura da Valve, e olhem no que isso deu.
Como disse: se há alguma empresa que tem o poder de levar o mercado de jogos de PC para o Linux, é a Valve. Especialmente se Gabe Newell, seu fundador, for louco o suficiente para transformar o aguardado Half-Life 3 em um jogo exclusivo para o Linux ou SteamOS. O Windows ainda irá reinar supremo por um tempo, mas fique de olho nesses jogos AAA que chegarão ao SteamOS em 2014.
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