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A Irmandade Muçulmana do Egito convocou seguidores para um protesto nesta quinta-feira, depois da morte de pelo menos 525 pessoas em ações repressivas das forças de segurança contra o movimento islâmico, no dia mais violento das últimas décadas no país árabe mais populoso.
O Cairo e outras cidades tiveram uma noite relativamente calma depois do derramamento de sangue na quarta-feira, quando o governo provisório declarou estado de emergência com validade de um mês e impôs um toque de recolher noturno na capital e em dez províncias.
Mas não está claro se os poderosos militares conseguirão conter a fúria de milhões de apoiadores do presidente islâmico Mohamed Mursi, deposto em 3 de agosto.
Na quarta-feira, após vários dias de ameaças, as forças do governo invadiram com violência dois acampamentos dos partidários de Mursi no Cairo. Os confrontos se espalharam rapidamente, e uma fonte do Ministério da Saúde informou na quinta-feira que 525 pessoas morreram e mais de 3.500 ficaram feridas no Cairo, em Alexandria e em várias outras cidades.
Foi o terceiro ataque a manifestantes islâmicos desde a derrubada de Mursi, há seis semanas, mas a escala do incidente da quarta-feira surpreendeu muita gente e sinalizou que os militares estão determinados a endurecerem seu controle sobre o país.
A decisão de dissolver à força as concentrações da Irmandade desafiou os apelos ocidentais por moderação e por uma solução negociada na crise política egípcia. Muitos países --mas não todos-- condenaram imediatamente o fato.
O primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, propôs na quinta-feira que o Conselho de Segurança da ONU reúna-se rapidamente para tomar uma providência contra o governo egípcio.
"Estou pedindo aos países ocidentais. Vocês se mantiveram em silêncio em Gaza, se mantiveram em silêncio na Síria... ainda estão em silêncio no Egito. Então como podem falar em democracia, liberdade, valores globais e direitos humanos?", disse ele em entrevista coletiva.
Já os Emirados Árabes Unidos, um dos vários países árabes que ficaram incomodados com a vitória de Mursi na eleição presidencial de 2012, manifestaram apoio à ação das forças oficiais, elogiando o fato de o governo ter "exercido o máximo autocontrole".
BARRACAS FUMEGANTES
No local onde ficava um dos acampamentos, garis recolhiam nesta quinta-feira os restos ainda fumegantes das barracas, e soldados desmontavam o palanque que havia no meio do terreno. Um veículo blindado queimado estava abandonado no meio da rua.
A Irmandade Muçulmana disse que o número de mortos foi bem superior, sendo que um porta-voz chegou a falar em 3.000. É impossível verificar de forma independente a dimensão da violência.
O estado de emergência e o toque de recolher devolvem ao Exército poderes de prender suspeitos indefinidamente, algo que vigorou durante décadas no Egito até a rebelião popular que derrubou o governante autocratata Hosni Mubarak, em 2011.
O Exército diz não desejar manter o poder, e alega que interveio para destituir Mursi em julho atendendo ao forte clamor popular pela renúncia dele. O governo provisório instalado depois disso prometeu realizar novas eleições em cerca de seis meses, mas os esforços para restaurar a democracia no Egito estão sendo ofuscados por uma crise política que polarizou o país entre grupos pró e anti-Mursi, primeiro presidente eleito democraticamente na história egípcia.
O vice-presidente Mohamed ElBaradei, ganhador do Nobel da Paz em 2005 e principal nome liberal no governo provisório, renunciou em protesto contra a violência da quarta-feira.
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