Em 18/03/2013 às 20h30 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
Agência Brasil
Rio de Janeiro – O efeito da desoneração dos produtos da cesta básica sobre a inflação ainda vai demorar algum tempo para ser percebido pela polpulação. A avaliação é do economista Salomão Quadros, superintendente de Inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). “Isso tem um processo. Essas coisas se transmitem por meio de renovação de estoques. Até que você tenha o varejo vendendo produtos que já saíram da indústria desonerados, isso leva um certo tempo”, disse à Agência Brasil. A desoneração da cesta básica foi anunciada pela presidenta Dilma Rousseff no último dia 8.
Quadros também declarou que, neste momento, é dificil fazer um prognóstico sobre o comportamento da inflação até o fim do ano. Há, segundo ele, vários fatores impulsionando os preços, “ao mesmo tempo em que o governo está tentando, por meio de algumas desonerações, evitar a continuidade desse processo. Mas a inflação está, realmente, em aceleração”. Daí, explicou o economista, a dificuldade em fazer um prognóstico mais definido, tanto de aumento como de queda da inflação.
Salomão Quadros participou hoje (18) da primeira edição de 2013 do Seminário de Análise Conjuntural do Ibre/FGV, cuja periodicidade é trimestral.
O coordenador de Economia Aplicada do Ibre, Armando Castelar, também participou do evento e disse àAgência Brasil que a economia brasileira atravessa um momento peculiar, com dois cenários distintos postos na praça. Um cenário mostra uma recuperação mais forte, entre 3% e 4%, com base na retomada de investimentos na área de caminhões, que está voltando a ter uma posição forte, e também baseado na recuperação agrícola, além do efeito da questão dos estoques, que pesou no ano passado.
Castelar, entretanto, faz uma análise mais moderada, embora aponte para um crescimento melhor do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, que o do ano passado. “Eu acho que a visão da gente ainda é um pouco mais calcada na ideia de que o ambiente de negócios prejudicou muito o investimento no ano passado. Muita incerteza macro, muita mudança, bota IOF [Imposto sobre Operações Financeiras], tira IOF, muita mudança setorial, no setor de energia elétrica, no setor de portos. A gente ainda vê um investimento forte no primeiro trimestre mas, no resto do ano recuperando muito gradualmente”, indicou Castelar. O cenário para o PIB sinaliza para um crescimento próximo de 3%, “ou um pouquinho menos”, declarou.
Nos dois cenários, a inflação preocupa bastante, avaliou o economista. A previsão média para a inflação se situa próximo de 6%. Ele concorda que é difícil saber quanto a desoneração da cesta vai acabar se refletindo nos preços ao consumidor. Externou preocupação em relação ao impacto que uma recuperação mais forte da indústria possa ter sobre a inflação. “Eu acho que com um real mais desvalorizado e uma recuperação do nível de atividade, você pode ter uma pressão de inflação forte vinda da indústria”.
Embora considere que o quadro internacional possa influir no desempenho da economia brasileira este ano, Armando Castelar destacou que o cenário ainda é relativamente positivo, “menos em termos de ritmo de crescimento, que deve repetir 2012, mas eu acho que mais como perspectiva”. Ele não tem dúvida de que a situação interna do Brasil é que vai determinar se o PIB vai crescer “muito ou pouco”.
Para o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos do Ibre, Aloisio Campelo, o cenário para a economia brasileira é de aceleração ao longo do ano. Observou, entretanto, que no início do ano, “apesar do resultado da indústria, que foi muito bom em janeiro, do lado da confiança empresarial e da confiança do consumidor, nós não estamos vendo uma aceleração tão forte”.
Campelo explicou à Agência Brasil que, de um lado, a indústria vem melhorando no primeiro trimestre, mas o setor de serviços deve desacelerar, apesar de ter mostrado um comportamento bom no final do ano passado. “Com isso, o PIB deve ter um desempenho semelhante ou talvez um pouquinho superior ao 0,6% [do último trimestre de 2012], mas não um desempenho exuberante no primeiro trimestre [de 2013]”.
O economista analisou que o mercado de trabalho continua bem em setores que empregam mais. Para os próximos meses, porém, disse que é esperada uma desaceleração das contratações. “Isso deve acabar implicando em estabilidade da taxa de desemprego ao longo desse ano”. Ele esclareceu que na composição da massa salarial, a tendência é que a contribuição maior deverá vir mais do aumento dos salários que do total de pessoal ocupado no ano.
Já o pesquisador da área de Economia Aplicada do Ibre, Régis Bonelli, trabalha com a perspectiva de recuperação forte da economia no primeiro trimestre de 2013, devido ao crescimento da indústria que, em janeiro deste ano, atingiu 2,5% em relação ao mês imediatamente anterior. “Mesmo com a queda esperada para fevereiro, a indústria vai crescer no trimestre”. Também para a agropecuária, a expectativa é expansão acentuada.
A taxa de crescimento estimada pelos economistas do Ibre/FGV alcança 1% para o primeiro trimestre deste ano, disse Bonelli em sua palestra. “E com essa taxa, o efeito de carregamento para este ano, ou seja, se o PIB parar de crescer depois do primeiro trimestre e continuar caindo até o final do ano, no fim de 2013 ele terá crescido 1,7% sobre o ano anterior”.
Bonelli comentou que o primeiro trimestre do ano vem sendo bom, mas confirmou que ainda há dúvidas sobre a economia no resto do ano. “As nossas sondagens mostram ainda os empresários e os consumidores muito cautelosos, com exceção da indústria de transformação, que é o setor que está crescendo mais até o momento”.