Em 13/03/2013 às 20h30 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
Jorge Bergoglio, o primeiro papa jesuíta da história do catolicismo, é um sacerdote argentino de hábitos monásticos que não hesita em atacar o poder político, embora paradoxalmente sua atuação nessa área tenha lhe proporcionado o capítulo mais amargo de sua vida clerical.
Reservado, pouco amigo da imprensa, preocupado com a exclusão social, o novo papa chamado Francisco governava com firmeza a arquidiocese de Buenos Aires, e projeta um pontificado sem surpresas em relação aos desafios que a sociedade moderna representa para a Igreja, como a sexualidade, o aborto, o divórcio ou a bioética.
Uma de suas biógrafas, Francesca Ambrogetti, o descreve como uma "personalidade bastante moderada. É absolutamente capaz de fazer a necessária renovação (na Igreja) sem saltos no vazio."
"Coincide com a necessidade de uma Igreja missionária. Que saia ao encontro das pessoas, ativa e não passiva. Uma Igreja que não seja reguladora da fé, mas promotora e facilitadora da fé", explicou.
Com 76 anos, o ex-cardeal é um homem austero, de marcada espiritualidade e apegado às tradições seculares do catolicismo. De aspecto formal, vive em um pequeno apartamento -rejeitou a residência oficial do arcebispado, mais confortável-, onde passa os fins de semana sozinho.
"Sobriedade e austeridade é seu estilo de vida. Usa metro, ônibus e as viagens a Roma faz em classe econômica", descreveu Ambrogetti.
Normalmente, guarda para suas escassas aparições públicas discursos carregados de palavras duras, tanto para os políticos como para a cidadania, destacando a pobreza massiva, a marginalização e a desigualdade social que vive a Argentina.
De acordo com a mídia internacional, Bergoglio havia sido um dos cardeais mais votados no conclave de 2005 que converteu o alemão Joseph Ratzinger no papa Bento 16.
OS ANOS NEGROS
Chegou ao sacerdócio aos 32 anos, quase uma década depois de perder um pulmão por uma doença respiratória e de deixar seus estudos de química. Mas apesar de seu ingresso tardio, em menos de quatro anos chegou a liderar a congregação jesuíta local, um cargo que exerceu de 1973 a 1979.
Sua ascensão coincidiu com um dos períodos mais obscuros da Argentina, tendo que enfrentar fortes críticas: a ditadura militar que governou o país entre 1976 e 1982.
As críticas foram feitas devido ao sequestro de dois jesuítas detidos clandestinamente pelo governo militar por fazerem trabalho social em bairros de extrema pobreza. Segundo a acusação, Bergoglio lhes retirou a proteção de sua ordem religiosa, depois que eles se negaram a interromper as visitas a favelas. Ambos os padres sobreviveram a uma prisão de cinco meses.
O caso é relatado no livro "Silêncio", do jornalista Horacio Verbitsky, também presidente da entidade privada defensora dos direitos humanos CELS. Se apoia em manifestações de Orlando Yorio, um dos jesuítas sequestrados, antes de morrer por causas naturais em 2000.
"A história o condena: o mostra como alguém contrário a todas as experiências inovadoras da Igreja e, sobretudo, na época da ditadura, o mostra muito próximo do poder militar", disse há algum tempo o sociólogo Fortunato Mallimacci, ex-decano da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires.
Os defensores de Bergoglio dizem que não há provas contra ele e que, ao contrário, ele ajudou muitos a escapar das Forças Armadas durante os anos de chumbo.
No Vaticano, longe da mancha da ditadura que ainda paira sobre muitos daqueles que tiveram atividade pública nesta fase da Argentina, é esperado que esse homem silencioso conduza a estrutura da Igreja com mão de ferro e com uma marcada preocupação social.
Políticos argentinos foram repetidamente alvo da retórica afiada do sacerdote, que foram acusados por ele de não combater a pobreza e arraigarem no poder.
Em 2010, também enfrentou o governo da presidente Cristina Kirchner quando o governo apoiou uma lei para permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
"Não vamos ser ingênuos: não se trata de uma simples luta política; é uma tentativa de destruição do plano de Deus", escreveu Bergoglio em carta, dias antes de o projeto ser aprovado pelo Congresso.
Cardeal desde 1998, muitos dos cardeais que escolheram Bergoglio o conheciam por sua inesperada e reconhecida atuação de relator durante o Sínodo de 2001.
Filho de uma família de classe média com cinco filhos, de pai ferroviário e mãe dona de casa, pouco inclinado a aceitar convites particulares e dono de um "pensamento tático", de acordo com especialistas, agora deve apresentar suas credenciais para mais de 1 bilhão de católicos.
Fonte: Reunters