Em 23/02/2013 às 15h43 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
O baterista é um ser à parte dentro de uma banda de rock. Sempre no fundo, é o responsável pela parte rítmica de qualquer grupo. Muitos fãs vêem determinados músicos atrás de seus enormes kits, descendo o braço com determinação e não imaginam que muitos tem verdadeira adoração pelo jazz. Abaixo cito alguns exemplos curiosos de grandes bateristas com fama mundial dentro do rock, que na hora de gravar um trabalho solo, ou mesmo realizar um projeto menor, optam pelo jazz.
Ginger Baker – Talvez o primeiro super baterista da história do rock, Ginger fez fama participando do super-grupo Cream, que incluía em suas fileiras o guitarrista Eric Clapton e o seu grande desafeto, o baixista Jack Bruce. Após o fim do grupo, o baterista montou ao lado de Clapton, outro grupo, o Blind Faith, que durou pouco tempo. Depois de um período a frente do Baker Gurvitz Army, Ginger, que teve suas raízes no jazz, mergulhou de cabeça em vários trabalhos solo, a maioria voltados a este estilo. De minha preferência, indico “Going Back Home” e “Falling of The Roof” , dois trabalhos solo, que o músico gravou como um trio, ao lado do guitarrista Bil Frisell e do baixista acústico Charlie Hadem.
Charlie Watts – Muitas vezes considerado limitado pelo seu estilo econômico de tocar, o baterista que ocupa o posto dos Stones há 50 anos é um apaixonado pelo jazz. Charlie tem uma banda solo e já se apresentou inclusive no Brasil nos anos 90. Escutando um cd do porte de “Long Ago & far Away”, um de seus CDs solo, o ouvinte pode sentir todo o talento e a sensibilidade do baterista, e perceber que ele nunca foi um músico limitado. Apenas adequou sua técnica ao rock simplista dos Rolling Stones, e o fez com grande perfeição. Outro grande trabalho do músico na esfera do jazz pode ser conferido em “Tribute To Charlie Paker With strings”.
Neil Peart – Considerado um verdadeiro fenômeno quando se fala em bateristas técnicos, Neil Peart é outro roqueiro apaixonado pela música criada em Nova Orleans. Quando o Rush resolveu dar um tempo em suas atividades no final dos anos 90, o músico resolveu produzir um tributo a um dos seus maiores heróis: o baterista Buddy Rich, um dos pioneiros do jazz. Além de produzir e tocar, Neil chamou uma infinidade de outros bateristas dos mais variados estilos para participar da homenagem que teve dois volumes e levou o nome de “Burning For Buddy, a Tribute To The Music Of Buddy Rich”. Na foto acima, Neil Peart toca em uma réplica da bateria de seu ídolo Buddy Rich.
Phil Collins – Cantor pop, baterista de rock progressivo, ator, multi-instrumentista. São muitas as facetas desse talentoso inglês! Nos anos 70, quando ainda era integrante do Genesis, Phil fez parte do Brand X, um combo liderado pelo guitarrista John Godstall, que tinha o jazz como espinha dorsal da música criada pelo grupo. Mas foi só em 1999 que o baterista resolveu gravar um cd com composições suas e de seu antigo grupo, com arranjos baseados nas grandes big bands de jazz. A apresentação foi na França, e o cd ganhou o título de “Hot Night In Paris”. Embora particularmente eu não tenha gostado do resultado, é inegável que as grandes orquestras do estilo tiveram uma influência seminal na formação de Phil como músico. Você pode conhecer o lado mais jazzístico de Phil escutando ainda “Livestock” do Brand X.
Bill Bruford – Bill fez fama como baterista do Yes. Porém, as longas suítes e o pouco espaço para o improviso, o fez trocar o progressivo sinfônico de seu grupo pelos temas sincopados do king Crimson, banda de Robert Fripp. O músico conciliou sua participação no grupo com seus trabalhos solos mais voltados para o jazz-rock até 1984, quando o grupo encerrou suas atividades. A partir de então, o baterista montou um grupo próprio de jazz, os Earthworks, sem guitarrista, e com instrumentos típicos do estilo, como baixo acústico e sax. O músico participou da volta do King Crimson em 1995, ainda mais livre e experimental, mas nem esse novo estilo fez a cabeça de Bruford cada vez mais envolvido com o jazz. Depois de vários trabalhos no estilo, como o excelente “Feels Good To me” e “Stamping Ground” ao lado dos Earthworks, o músico se encontra hoje aposentado.
Manu Katché – Baterista francês muito conhecido por seu trabalho ao lado de nomes como Peter Gabriel, Joni Mitchel, Sting e até o guitar-hero Joe Satriani, Manu, quando teve a oportunidade de realizar seus trabalhos solo, se enveredou mesmo foi pelo jazz tradicional, estilo que adora. O baterista lançou cinco discos solos, sendo que quatro deles são pela prestigiada gravadora norueguesa ECM. O estilo é o mais clássico possível, sem espaço para exibicionismos gratuitos tendo o sax como solista principal. Vale a pena escutar “Third Round” e “Playground”, dois de seus melhores trabalhos.