Em 14/02/2013 às 20h30 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
Guardas entraram em celas e confiscaram documentos confidenciais de réus presos em Guantánamo no momento em que os acusados estavam no tribunal escutando garantias de que ninguém lê a correspondência sigilosa entre advogados e clientes, disseram advogados de defesa nesta quinta-feira.
As audiências desta semana têm como tema as acusações de que o governo dos Estados Unidos espiona conversas confidenciais entre réus e advogados, o que promotores negaram na terça-feira.
A advogada Cherly Bormann disse que seu cliente Walid bin Attash voltou à sua cela depois da audiência da terça-feira e percebeu que suas caixas com documentos judiciais haviam sido saqueadas e que documentos confidenciais para a sua defesa estavam faltando.
"Precisamos parar com isso agora. Isso afeta a nossa capacidade de fazermos nosso trabalho", disse a advogada, acrescentando que seu cliente está com medo de que isso ocorra toda vez que ele for ao tribunal.
Bin Attash, que só tem uma perna e usa os cabelos encaracolados até os ombros, ficou de pé e gritou para o juiz: "Em nome de Deus há uma coisa importante para o senhor".
O juiz, coronel James Pohl, lhe disse repetidamente para que se sentasse, e ameaçou retirá-lo da sala, mas disse que Bin Attash poderia falar mais tarde, sob juramento. Bin Attash é acusado de ter dirigido um campo da Al Qaeda no Afeganistão onde dois dos sequestradores do 11 de Setembro treinaram.
Advogados disseram que documentos foram retirados também das celas de Khalid Sheikh Mohammed, suposto mentor do ataque, e Ramzi Binalshibh, que admitiu só não ter participado do sequestro aéreo porque não conseguiu visto para os Estados Unidos.
Advogados militares que trabalharam no campo carcerário disseram em depoimento nesta semana que recebiam ordens para abrir a correspondência dos advogados para os presos, em busca de material que pudesse ser contrabandeado, como grampeadores e clipes de papel, e carimbá-la como material judicial após um exame superficial.
Um advogado do Exército disse suspeitar que tenha sido transferido do seu cargo em Guantánamo por ter manifestado restrições éticas à inspeção da correspondência judicial.
Os réus podem ser condenados à morte pelas acusações relativas ao ataque com aviões comerciais sequestrados, que matou 2.976 pessoas.
O juiz disse que vai avaliar a questão da correspondência jurídica na terça-feira, após ouvir depoimentos sobre outro assunto.
Fonte: Reuters