Em 08/02/2013 às 10h00 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
Por décadas, a Microsoft subsistiu o leite de suas duas vacas leiteiras: o Windows e o Office. As ocasionais incursões da empresa em hardware geralmente não terminam bem: Zune, Kin Phone, Spot Watch.
Mas o novo tablet Surface Pro, que começa a ser vendido neste sábado (9) nos Estados Unidos, parece ter mais elementos a seu favor do que qualquer hardware da Microsoft desde o Xbox. Nos EUA, o modelo com 64 GB custa US$ 900 (cerca de R$ 1.800) e o de 128 GB custa US$ 1.000 (cerca de R$ 2.000).
Todo mundo sabe o que é um tablet, né? É uma placa preta com tela de toque, como o iPad ou os modelos com sistema operacional Android, por exemplo. Ele não roda programas reais para Windows ou Mac – ele roda aplicativos mais simples. Não é um computador real.
Mas com o Surface Pro, a Microsoft pergunta: por que não?
O Surface Pro parece um tablet. Ele pode funcionar como um tablet. Você pode segurá-lo em uma mão e desenhar nele com a outra. Ele vem até mesmo com uma caneta de plástico que funciona maravilhosamente.
Mas, dentro, o Pro é um PC com Windows completo, com o mesmo chip Intel que move muitos notebooks de ponta e até mesmo duas ventoinhas para mantê-lo refrigerado (elas são silenciosas). Como resultado, o Pro pode rodar qualquer um dos 4 milhões de programas para Windows, como iTunes, Photoshop, Quicken e, é claro, Word, Excel e PowerPoint.
O Surface Pro é lindo. Ele é envolto em metal preto fosco, chanfrado nas bordas como um helicóptero Stealth. Seus conectores sugerem imediatamente suas capacidades pós-iPad, como um slot para cartão de memória para expansão do armazenamento. A tela é brilhante e bonita, com resolução de alta definição 1080p – mas, quando você conecta seu tablet a uma TV ou monitor desktop, ele pode enviar uma imagem ainda maior e mais nítida (2.550 x 1.440).
Há uma entrada USB 3.0 no tablet, e uma segunda engenhosamente inserida no cabo de força, de modo que você pode carregar seu celular enquanto trabalha. Ou você pode conectar qualquer coisa que você conectaria a um PC: drives externos, pendrives, teclado, mouse, alto-falantes, câmeras e assim por diante.
Você percebeu? Trata-se de um PC, não de um iPad.
Transformação
Como que para deixar isso bem claro, a Microsoft deu ao Surface Pro dois extras incomuns que completam a transformação de tablet em PC em dois segundos.
Primeiro, o tablet tem um suporte. É uma aba fina de metal que desaparece completamente quando está fechada, mas segura o tablet em um ângulo agradável quando você está trabalhando ou assistindo a um filme.
Segundo, você pode comprar a já famosa capa teclado da Microsoft. Há dois modelos, na verdade. Um é aproximadamente da espessura de um papelão de camisa. Você pode digitar nele – lentamente –, mas você está digitando em desenhos de teclas, não em teclas de fato. Ela se chama Touch Cover (US$ 100 nos EUA, ou cerca de R$ 200, com a compra do Surface).
O outro teclado, o Type Cover (US$ 130 nos EUA; cerca de R$ 260), é mais espesso, com 6 milímetros. Ele tem teclas reais e um trackpad. Você pode realmente digitar nele.
Ambos os teclados se ligam ao tablet com um poderoso clique magnético. Para uso do portátil, você pode virar ambos os teclados até as costas do tablet: ele se desativa sozinho, de modo que você não digitará nada por acidente.
E se você quiser ir realmente a fundo na ideia do PC instantâneo, você também pode adquirir o mouse Touch Wedge, que combina. Ele é uma minúscula superfície de toque sem fio de US$ 40 (nos EUA; cerca de R$ 80), não muito maior do que a bateria AA que o alimenta, com botões rápidos e uma superfície de toque no topo para rolagem.
Reação
Bem, quando eu escrevi uma prévia em um post no meu blog no mês passado, eu fiquei surpreso com as reações dos leitores. Repetidamente, eles postavam o mesmo argumento.
"Por essa grana, eu poderia comprar um notebook leve muito bom com teclado dedicado e muito mais capacidade de armazenamento. Por que eu compraria o Surface Pro quando posso ter mais por menos?"
Por quê? Porque o Surface Pro faz coisas que a maioria dos notebooks não faz. Como pesar 900 gramas, com tela de toque. Ou trabalhar em orientação de retrato, como uma prancheta. Ou permanecer confortável em uma mão enquanto você checa os pacientes, realiza inventários ou esboça um retrato. Ou caber em uma bolsa ao passar pela segurança do aeroporto (a Administração de Segurança dos Transportes diz que tablets podem permanecer na bolsa).
Você também ouve: "Mas tablets PC plenos já não existiam"? Sim, há alguns. Mas sem o suporte e a capa teclado, eles não podem mudar instantaneamente em um computador desktop.
É verdade, por esse dinheiro você poderia comprar um bom notebook. Você também poderia pagar por um cruzeiro de cinco dias, uma bolsa Gucci ou comprar 250 galões de leite nos Estados Unidos. São apenas coisas diferentes.
Resumindo, o Surface Pro é rápido, flexível e incrivelmente compacto pelo que faz; isso é inegável. Mas, na prática, há algumas decepções e confusões.
Fique atento
Confusão 1: o Surface Pro roda Windows 8, que é dois sistemas operacionais em um. Você tem um sistema operacional de tablet, cuja tela Home (Iniciar) está repleta de blocos coloridos que representam os aplicativos e informação em tempo real. Como a Microsoft se recusa a dar um nome a esse ambiente, vamos chamá-lo de MundoBloco.
O MundoBloco foi chocantemente grampeado ao desktop regular do Windows. Você acaba com dois navegadores de internet, dois painéis de controle, dois programas de e-mail, dois visuais completamente diferentes.
Essa dualidade estranha não faz nenhum sentido nos computadores desktop regulares, mas é um pouco mais razoável no Surface Pro. Esta máquina tem dois modos – tablet e notebook –, de modo que cada um de seus dois sistemas operacionais serve a um propósito. Mas você ainda tem muito o que aprender.
Confusão 2: há dois tablets Surface. Um saiu poucos meses atrás. Ele se chama Surface (não Pro), custa US$ 500 nos EUA; cerca de R$ 1.000), pesa 680 gramas e tem 1 centímetro de espessura. Ele roda apenas os aplicativos do MundoBloco – geralmente aplicativos simples que ocupam toda a tela, não programas Windows reais –, o que não é muito atraente. Se você vai comprar um tablet que não roda programas reais, por que não pegar um iPad e desfrutar de seu acervo de 300 mil aplicativos?
O Surface Pro é mais espesso e pesado (pouco mais de 1,3 centímetro e 900 gramas). Mas, maravilha, roda tanto os aplicativos do MundoBloco quanto todos os programas Windows tradicionais, o que o torna fantasticamente versátil.
Pontos negativos
Infelizmente, a confusão não é a única mancha nessa "superfície". Os alto-falantes não são especialmente fortes. A tela e o teclado são ligeiramente menores do que você teria em um notebook real. O ímã no cabo de força é mais forte do que no Surface não Pro, mas conectar esse cabo ainda é uma operação confusa.
Você também precisa entender que, dos 64 GB de capacidade de armazenamento do modelo básico, apenas 23 GB estão disponíveis para uso; 65% de sua capacidade é devorada pelo próprio Windows (no modelo Surface Pro de 128 GB, apenas 83 GB estão livres.) Ai.
Mas o que é realmente uma pena é a bateria. A Microsoft diz que o Pro tem quase metade da duração de bateria do Surface não Pro, o que significaria em torno de 4,5 horas. Eu digo que você terá sorte se conseguir 4,5 horas; eu mal consegui 3,5 horas com uma carga.
Acho que esse é o motivo para não existirem muitos outros notebooks de 1,3 centímetro e 900 gramas com processadores Intel i5.
No final, o Surface Pro não é para todo mundo, não é tudo o que parecia inicialmente e nem tudo o que poderia ser.
Mesmo assim, há muito o que admirar na realização da Microsoft. O Surface Pro é uma ideia importante, quase uma nova categoria, e será a máquina certa para muita gente. Ela ocupa um ponto em tamanho/peso/velocidade/programas nunca atingido por nenhuma outra máquina. Você pode usar esta coisa em uma mesa de restaurante sem parecer (muito) desagradável. Você pode segurá-lo em uma mão e ler um livro Kindle enquanto está esperando em uma fila.
E, uau, ele cai bem na mesa do avião. Recline-se o quanto quiser, amigo. Eu vou continuar trabalhando.
Fonte:http://tecnologia.uol.com.br/noticias/nyt/2013/02/08/tablet-surface-pro-da-microsoft-abraca-funcoes-de-um-computador-tradicional.htm