Em 07/02/2013 às 20h41 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
Políticos islâmicos contestaram nesta quinta-feira a decisão do seu líder, o primeiro-ministro Hamdi Jebali, de dissolver o gabinete depois do assassinato de um influente oposicionista, crime que motivou as maiores manifestações populares no país desde a revolução de 2011.
Manifestantes incendiaram uma delegacia na cidade de Kelibia e a sede do partido governista Ennahda, um grupo islâmico moderado, em Túnis. Nos arredores do Ministério do Interior, policiais usaram gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes, e pelo menos sete pessoas ficaram feridas em Gafsa. Uma multidão saqueou lojas de aparelhos eletrônicos na cidade de Sfax.
Novos distúrbios podem acontecer na sexta-feira, quando sindicatos planejam uma greve geral em protesto pelo assassinato do político laico Chokir Belaid. Seu funeral, no mesmo dia, deve ser outro foco de protestos.
Um assessor de Hussein Abassi, líder da maior central sindical tunisiana, a UGTT, disse que ele recebeu uma ameaça de morte após anunciar a greve geral, a primeira no país em 34 anos.
Temendo mais violência, muitas lojas de Túnis fecharam às 14h (11h em Brasília), e a França, ex-potência colonial, disse que fechará suas escolas em Túnis na sexta-feira e no sábado.
Jebali, do partido Ennahda, anunciou na noite de quarta-feira que irá nomear um gabinete provisório composto por tecnocratas em substituição a ministros do seu partido islâmico moderado. Ele também disse que convocará eleições assim que for possível.
Mas dirigentes do Ennahda disseram que Jebali não consultou o partido, o que indica que o grupo islâmico está profundamente dividido a respeito da demissão do gabinete.
"O primeiro-ministro não pediu a opinião do seu partido", disse o vice-presidente da agremiação, Abdelhamid Jelassi. "Nós, do Ennahda, acreditamos que a Tunísia precisa de um governo agora. Vamos continuar as discussões com outros partidos sobre a formação de uma coalizão de governo."
Dois partidos da coalizão e os principais grupos de oposição também rejeitaram a nomeação de um gabinete de tecnocratas e exigiram que sejam consultados antes da formação de um novo governo.
O anúncio de Jebali ocorreu horas depois de Belaid ser assassinado na frente da sua casa, em Túnis, por um motociclista que fugiu. Ninguém assumiu a autoria do crime, e a direção do Ennahda disse não ter nada a ver com ele.
Apesar disso, uma multidão ateou fogo à sede do Ennahda, que formou a maior bancada nas eleições legislativas de 16 meses atrás, as primeiras no país depois da revolução que derrubou o ditador Zine al-Abidine Ben Ali. Os protestos chegaram também à localidade de Sidi Bouzid, berço da chamada Revolução de Jasmim.
Belaid era um advogado esquerdista que tinha relativamente poucos seguidores políticos, mas que falava por muitos que temem restrições de radicais religiosos às liberdades conquistadas na rebelião que deu início à Primavera Árabe, há dois anos.
Jebali deve continuar interinamente no seu cargo, algo que desagradou grupos de oposição. "Todo o governo, inclusive o primeiro-ministro, deveria renunciar", disse Beji Caid Essebsi, ex-premiê que dirige o partido laico Nida Touns.
O analista político Salem Labyed disse que a oposição parece ter a intenção de tirar proveito da crise, e que a incerteza política prolongada pode gerar mais distúrbios.
"Parece que a oposição quer assegurar o máximo possível de ganhos políticos ..., mas o temor é de que a crise no país se aprofunde se as coisas permanecerem obscuras no nível político. Isso poderia elevar a ira dos apoiadores da oposição secular, que podem voltar às ruas outra vez", afirmou.
Fonte: Reuters