Em 07/02/2013 às 14h30 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
Políticos islâmicos da Tunísia contestaram nesta quinta-feira a decisão de seu líder, o primeiro-ministro Hamdi Jebali, de dissolver o gabinete depois do assassinato de um influente político de oposição, o que motivou as maiores manifestações populares no país desde a revolução de 2011.
Jebali, do partido Ennahda, anunciou na noite de quarta-feira que irá nomear um gabinete provisório composto por tecnocratas, em substituição a ministros do seu partido islâmico moderado. Ele também disse que convocará eleições assim que for possível.
Mas dirigentes do Ennahda disseram que Jebali não consultou o partido, o que indica que o grupo islâmico está profundamente dividido a respeito da demissão do gabinete.
"O primeiro-ministro não pediu a opinião do seu partido", disse Abdelhamid Jelassi, vice-presidente do Ennahda. "Nós, do Ennahda, acreditamos que a Tunísia precisa de um governo político agora. Vamos continuar as discussões com outros partidos sobre a formação de uma coalizão de governo."
Os principais partidos de oposição também rejeitaram a nomeação de um gabinete de tecnocratas, e exigiu que sejam consultados antes da formação de um novo governo.
Jebali anunciou a dissolução do governo na noite de quarta-feira, horas depois de o político oposicionista laico Chokri Belaid ser assassinado na frente da sua casa, em Túnis.
Em reação ao crime, uma multidão ateou fogo à sede do Ennahda, que formou a maior bancada nas eleições legislativas de 16 meses atrás, as primeiras no país depois da revolução que derrubou o ditador Zine al Abidine Ben Ali.
Belaid era um advogado de esquerda que tinha relativamente poucos seguidores políticos, mas que falava por muitos que temem restrições de radicais religiosos às liberdades conquistadas na rebelião que deu início à Primavera Árabe, há dois anos.
Jebali deve continuar interinamente no seu cargo, algo que desagradou grupos de oposição. "Todo o governo, inclusive o primeiro-ministro, deveria renunciar", disse Beji Caid Essebsi, ex-premiê que dirige o partido laico Nida Touns.
O analista político Salem Labyed disse que a oposição parece ter a intenção de tirar proveito da crise, e que a incerteza política prolongada pode gerar mais distúrbios.
"Parece que a oposição quer assegurar o máximo possível de ganhos políticos... mas o temor é de que a crise no país se aprofunde se as coisas permanecerem obscuras no nível político. Isso poderia elevar a ira dos apoiadores da oposição secular, que podem voltar às ruas outra vez", afirmou.
Fonte: Reuters