Em 06/02/2013 às 14h30 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
Milhares de manifestantes saíram às ruas de Túnis e na localidade de Sidi Bouzid, epicentro das revoltas que deram origem à Primavera Árabe, para protestar contra o assassinato a tiros de um político de oposição, nesta quarta-feira.
O primeiro-ministro Hamadi Jebali condenou o ataque a tiros contra Shokri Belaid diante de sua casa, em Túnis, qualificando-o como assassinato político e um golpe contra a revolução da "Primavera Árabe". Jebali disse que o assassino ainda não foi identificado.
A tensão vem crescendo entre islamistas e secularistas como Belaid, que era um adversário ferrenho do governo liderado por islamistas moderados, eleito em outubro de 2011.
Assim que se propagou a notícia do assassinato, mais de mil manifestantes se reuniram diante do Ministério do Interior e muitos pediam a destituição do governo. O país passou a ter novos governantes depois da revolta que levou à derrubada do líder Zine al-Abidine Ben Ali, em janeiro de 2011.
Os manifestantes também tomaram as ruas de Sidi Bouzid. Foi nessa cidade que Mohamed Bouazizi, um universitário com pós-graduação, ateou fogo ao corpo em desespero depois que a polícia confiscou seu carrinho de frutas, que operava sem licença. A morte de Bouazizi desencadeou protestos que derrubaram o presidente.
"Mais de 4 mil estão protestando agora, queimando pneus e atirando pedras contra a polícia", afirmou Mehdi Horchani, morador de Sidi Bouzid, à Reuters. "A raiva é muito grande."
O partido islamista líder da coalizão que governa a Turquia disse que não teve qualquer ligação com o assassinato, e culpou pessoas interessadas em tirar do rumo a transição democrática da Tunísia após o levante popular de 2011.
"O Ennahda é completamente inocente no assassinato de Belaid... É possível que o partido governista cometesse esse assassinato quando isso poderia prejudicar os investimentos e o turismo?", disse o presidente do partido, Rached Gannouchi, à Reuters.
"A Tunísia hoje está no maior impasse político desde a revolução. Devemos ficar calados e não entrar num espiral de violência. Precisamos mais do que nunca de unidade", acrescentou.
A Tunísia foi o primeiro país árabe a derrubar seu líder e realizar eleições livres quando as rebeliões se espalhavam por toda a região, há dois anos, levando à queda dos governantes do Egito, Iêmen e Líbia e à guerra civil na Síria.
Desde a revolução, o governo tem enfrentado uma série de protestos contra a crise econômica e o caminho a ser trilhado pela Tunísia, já que muitos tunisianos se queixam de que os salafistas (islamistas radicais) se apoderaram da revolução e impõem os seus princípios em um país dominado anteriormente por uma elite secular.
O comércio em declínio com a zona do euro, que está em crise, faz com que muitos tunisianos tenham dificuldades para alcançar o padrão melhor de vida que almejavam após a derrubada de Bem Ali.
O presidente Moncef Marzouki, que no mês passado alertou para o risco de a tensão conduzir o país a uma "guerra civil", pediu calma. Após o assassinato, ele abreviou uma curta viagem à França e cancelou visita ao Egito marcada para quinta-feira.
"Vamos continuar a lutar contra os inimigos da revolução", disse ele no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, sob aplausos.
Marzouki alertou no mês passado que o conflito entre islamistas e secularistas poderia levar a uma guerra civil e pediu um diálogo nacional, que inclua todos os matizes políticos.
A oposição secular acusa o partido governista Ennahda de ser muito próximo a grupos radicais salafistas, enquanto os salafistas se queixam de que o Ennahda não está defendendo os valores islâmicos. O Ennahda rejeita as acusações de ambos os lados.
Fonte: Reuters