Em 03/02/2013 às 20h46 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
São Paulo – Uma manifestação reuniu na tarde de hoje (3) cerca de mil gestantes, mães e doulas na Avenida Paulista. A marcha promovida pelo Movimento de Humanização do Parto pediu a liberação da presença das doulas (acompanhantes treinadas para oferecer à gestante suporte físico e psicológico durante o parto) nas maternidades, sem que essas profissionais precisem ocupar a única vaga de acompanhante, normalmente preenchida pelo pai do bebê.
O protesto, que teve início às 13h, em frente ao Edifício da Gazeta, percorreu a Avenida Paulista em direção ao Hospital Santa Joana, onde os manifestantes entregaram uma carta com as reivindicações e um abaixo-assinado com mais de 5 mil assinaturas.
Segundo o movimento, o Grupo Santa Joana, responsável pelo Hospital e Maternidade Santa Joana e a Maternidade Pro Matre Paulista, fez um recadastramento de doulas para a participação em partos normais, mas exigiu que elas tenham formação de enfermeira, psicóloga, terapeuta ou fisioterapeuta.
Porém, de acordo com Ana Cristina Duarte, uma das organizadoras do movimento, para ser doula, a mulher precisa apenas de um curso de capacitação. “Eles [Grupo Santa Joana] criaram um cadastro que não é de doulas. É de enfermeiras, psicólogas, terapeutas. As doulas continuam sendo limitadas na sua atuação”, disse.
Para Ana Cristina, a presença da doula é importante, pois colabora para a diminuição do número de cesáreas, dos procedimentos invasivos, além de trazer segurança à futura mãe. “A doula oferece todo tipo de medida de conforto, através de palavras, de toque, massagem, encorajamento”, informou.
Thielly Soengas, 28 anos, conta que teve uma primeira gestação traumática. “Meu médico falava que não tinha necessidade [da doula], mas na hora do parto eu senti que faltava alguma coisa. Tive muitas dúvidas, desespero, falta de amparo, acolhimento.”
Passados dois anos, Thielly teve o segundo filho, hoje com 11 meses, amparada por uma doula. “Esse acolhimento, esse contato próximo, fez toda a diferença. Não bateu aquele medo.”
Depois da experiência, Thielly decidiu se tornar uma doula voluntária e ajudar outras mães. Ela participa de grupos de apoio, que promovem reuniões semanais, em que as gestantes recebem apoio e esclarecimentos.
Dorothe Kolena, uma das doulas que atuam há mais tempo no Brasil, concorda com os benefícios trazidos pelo trabalho dessas profissionais. “A presença delas, o suporte, diminui a chance de a mulher ter um procedimento invasivo. Diminuem os pedidos de anestesia. É uma forma muito bacana e não invasiva de se melhorar o quadro obstétrico do Brasil”, explica Dorothe, que é doula há 13 anos e aplica acupuntura nas gestantes com as quais trabalha.
Na capital paulista, 300 mulheres atuam como doulas, sendo que 100 delas fazem o trabalho voluntariamente. De acordo com Ana Lúcia Keunecke, advogada do movimento, o Santa Joana e o Pro Matre Paulista são as maternidades com maior índice de cesarianas do município.
O Grupo Santa Joana informou, por meio de nota, que o recadastramento das doulas faz parte das atualizações do grupo, que vem revisando constantemente seus procedimentos internos em prol dos pacientes. As doulas credenciadas poderão participar dos partos normais feitos na Unidade para Parto Normal. As doulas que não tiverem realizado o cadastro poderão ter acesso ao local como acompanhante, conforme opção da paciente. Nesse caso é permitido apenas um acompanhante por gestante.
Em outubro de 2012, a Agência Brasil publicou o especial Casas de Parto: Centros de Vida, uma série de matérias para mostrar o atendimento às gestantes que dispensam intervenções médicas ou cirúrgicas e buscam alternativas para dar à luz de maneira mais natural.
Fonte e fotos: Agência Brasil