Em 31/01/2013 às 20h41 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
O Presídio Antônio Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, realizou, nesta quinta-feira (31), a quarta despesca de peixes criados dentro da unidade. Cerca de uma tonelada de tilápias, que foram alimentadas e cuidadas por uma equipe de detentos, foi distribuída – pelos próprios presos – na comunidade de Vila Hortinho, que fica próximo à unidade prisional. Essa foi a primeira vez que os peixes foram entregues vivos diretamente à população carente. Antes, eles iam para o Banco de Alimentos do município e então doados para instituições.
O analista de Comércio Exterior do Ministério da Pesca e Aquicultura, Renato Cardoso, acredita que essa é a melhor forma de fazer os peixes chegarem ao consumidor. Segundo ele, ”a entrega do peixe vivo é importante porque, dessa forma, a pessoa que vai comê-lo sabe há quanto tempo ele foi abatido e suas condições de armazenamento”. Renato lembra que, por entregarem pessoalmente os peixes, os detentos também ganham. “Assim, o projeto resgata algo que foi perdido na relação do cidadão com a sociedade”, afirma.
Já o diretor de Trabalho da Superintendência de Atendimento ao Preso, da Secretaria de Defesa Social (Seds), Guilherme Lima, vê outra função nesse trabalho. Segundo Guilherme, além do trabalho de reintegração, ele “proporciona, através da mão de obra do preso, um serviço à sociedade”.
Dona Loreci Alves da Silva, moradora do Vila Hortinho, agradece pela iniciativa. “A comunidade aqui é muito sofrida. É mais do que bom quando alguém tenta ajudar”, conta a costureira, que também acredita no papel do projeto na reintegração dos detentos. “O preso tem que ter uma oportunidade de recuperação. Tudo o que é feito para ajudá-los é feito em prol da sociedade”, acredita.
O conhecimento adquirido pelos detentos vai ajudá-los a encontrar uma nova profissão. Um deles, que participou da primeira despesca, já está trabalhando com piscicultura. Jânio Michel, de 25 anos, participa desde o começo e continua no projeto. “Até proposta já tenho. Falei que não tenho o conhecimento especializado, mas dá para trabalhar com o que aprendi na unidade”, conta. Segundo o analista do Ministério da Pesca, o detento pode continuar o trabalho quando está em liberdade. “Ele pode trabalhar em empresas ou como autônomo. Dependendo da localidade e da produção, nem mesmo é necessária uma licença ambiental”, explica.
O próximo objetivo é que os detentos tenham mais aulas teóricas com um professor do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, e que alunos da universidade participem da criação dos peixes. “Eu não tenho condições de levá-los pra um banco de faculdade, mas tenho condições de dar um ensinamento maior aqui”, afirma o diretor-geral do presídio, Rodrigo Machado Andrade.
No começo desta semana, novos peixes já começaram a ser criados. Cerca de 3 mil alevinos (filhotes dos animais) chegaram e já estão nos tanques. Nos próximos sete meses, serão alimentados pelos detentos e, no segundo semestre, haverá uma outra despesca.
Histórico
O projeto, pioneiro em Minas, é resultado de uma parceria entre a Secretaria de Estado de Defesa Social, o Ministério da Pesca e Aquicultura e a Universidade Federal de Minas Gerais. Os detentos aprenderam como tratar os animais, qual ração utilizar em cada fase da vida e como fazer a higienização do local e a retirada dos peixes.
A ideia de realizar o projeto começou em 2006, mas os treinamentos, os primeiros alevinos e equipamentos vieram em 2010. A primeira despesca foi realizada em fevereiro de 2011 e contou com a presença do governador Antonio Anastasia, do secretário de Estado de Defesa Social, e do ministro de Pesca e Aquicultura. Atualmente, seis presos estão aprendendo as técnicas e trabalhando. Além de uma remuneração de um terço do salário mínimo, eles perdem um dia de pena a cada três trabalhados.
Fonte: Agência Minas