Em 25/01/2013 às 20h30 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
Manifestantes entraram em confronto com a polícia em todo o Egito nesta sexta-feira, o segundo aniversário da revolta que derrubou Hosni Mubarak, indo para as ruas contra um presidente islamista que, segundo os opositores, está pisoteando a nova democracia.
Pelo menos 61 civis e 32 membros da segurança ficaram feridos na violência no Cairo, Alexandria e Suez quando a polícia disparou gás lacrimogêneo e os manifestantes revidaram com pedras, disse o Ministério do Interior.
Batalhas de rua também foram relatadas em Ismaila, onde os escritórios políticos da Irmandade Muçulmana foram incendiados.
Milhares de opositores de Mohamed Mursi e de seus aliados da Irmandade se concentraram na Praça Tahrir no Cairo - o berço do levante contra Mubarak - para reviver as demandas de uma revolução que eles dizem que foi traída pelos islamistas.
O aniversário de 25 de janeiro exibiu a divisão entre os islamistas e seus inimigos seculares que está atrasando os esforços do presidente Mursi em reviver uma economia em crise e reverter uma queda na moeda egípcia atraindo de volta investidores e turistas.
Inspirada pelo levante popular na Tunísia, a revolução do Egito provocou mais revoltas em todo o mundo árabe. Mas o sentido de propósito comum que unia os egípcios dois anos atrás deu lugar a rixas internas que só pioraram e, no mês passado, provocaram batalhas de rua com vítimas.
Antes do amanhecer de sexta-feira a polícia combatia os manifestantes, que atiravam coquetéis Molotov e fogos de artifício enquanto tentavam se aproximar de um muro que bloqueava o acesso aos prédios do governo perto da Praça Tahrir.
Nuvens de gás disparado pela polícia enchiam o ar. A certa altura, a tropa de choque usou uma das bombas incendiárias atiradas contra ela para pôr fogo em pelo menos duas tendas erguidas pelos jovens, disse uma testemunha da Reuters.
O confronto entre jovens que atiravam pedras e a polícia continuou nas ruas ao redor da praça durante todo o dia. Ambulâncias transportavam para longe muitas vítimas.
"Nossa revolução continua. Rejeitamos a dominação de qualquer partido sobre este Estado. Dizemos não ao Estado da Irmandade", disse à Reuters Hamdeen Sabahy, um popular líder de esquerda.
Houve cenas similares em Suez e em Alexandria, onde os manifestantes e a tropa de choque entraram em confronto perto de prédios do governo.
Alguns manifestantes prometiam marchar até o palácio de Mursi no Cairo.
O aniversário levou milhares de opositores de Mursi para as ruas de outras cidades, incluindo Port Said no norte do Canal de Suez, e al-Mahalla al-Kubra no Delta do Nilo.
A Irmandade resolveu não se mobilizar para o aniversário temendo a possibilidade de mais conflitos, depois da violência em dezembro provocada pela decisão de Mursi de acelerar uma Constituição de tons islamistas rejeitada por seus opositores.
"A Irmandade está muito preocupada com a escalada, é por isso que tentaram diminuir seu papel em 25 de janeiro", disse Shadi Hamid, diretor de pesquisa do Brooking Doha Center. "Está definitivamente tenso no local, mas até agora não houve nada fora do comum ou nada que realmente ameace alterar fundamentalmente a situação política", acrescentou.
Na Praça Tahrir, manifestantes ecoaram os gritos dos históricos 18 dias de levante em 2011. "O povo quer derrubar o regime", gritavam. "Saiam! Saiam! Saiam!", gritavam outros enquanto marchavam pela praça.
"Não estamos aqui para comemorar, mas para obrigar quem está no poder a se submeter à vontade popular. O Egito de agora não deve ser como o Egito durante o governo de Mubarak", disse Mohamed Fahmy, um ativista.
Com seus olhos fixos nas próximas eleições parlamentares, a Irmandade marcou o aniversário com uma iniciativa beneficente em todo o país. Pretende entregar ajuda médica a um milhão de pessoas e distribuir alimentos básicos a preços acessíveis.
Escrevendo no Al-Ahram, o jornal estatal do Egito, o líder da Irmandade, Mohamed Badie, disse que o país precisava "de competição séria e prática" para reformar o Estado corrupto deixado pela era Mubarak.
"A diferença de opinião e de visão pela qual o Egito está passando é típica das transições da ditadura para a democracia, e expressa claramente a variedade da cultura egípcia", escreveu.
Fonte: Reuters