Em 14/01/2013 às 18h52 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
Morre Claude Nobs - O criador de um dos maiores, senão o maior festival de música do mundo, o “Montreux Jazz Festival”, Claude Nobs, faleceu na última quinta-feira. Ele tinha 76 anos e sofreu um acidente grave enquanto esquiava em dezembro do ano passado. Claude entrou em coma vítima da gravidade dos ferimentos e não resistiu, vindo a falecer. Além de entrar para a história da música, Claude Nobs será sempre lembrado por sua citação em um dos maiores clássicos do rock: “Smoke On The Water, do Deep Purple.
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Em 1948, um técnico de rádio chamado Leo Fender juntou um pedaço de madeira do tipo Ash a outro do tipo Maple e o conectou a um captador. O resto da história vocês conhecem. Ao menos já ouviram parte dela pelas guitarras de Buddy Holly, Jimi Hendrix, George Harrison, Keith Richards, Eric Clapton, Bruce Springsteen, Kurt Cobain e tantos outros. É o som de uma guitarra elétrica Fender.
A empresa criada pelo técnico de rádio – agora conhecida como Fender Musical Instruments Corporation – é a maior fabricante de guitarras do mundo. Seu modelo Stratocaster, lançada em 1954, ainda é uma das mais vendidas e virou sinônimo de rock ’n’ roll.
Mas esse coração do rock já não pulsa mais como antigamente. Assim como muitas outras fabricantes americanas, a Fender luta para se manter numa economia em crise. Neste ano, as vendas e os lucros caíram. Afinal, uma Stratocaster é o que os economistas chamam de produto de consumo supérfluo.
Mas o problema não é só macroeconômico. A Fender, sediada em Scottsdale, Arizona, também foi atingida por forças poderosas em Wall Street. Dona de quase metade da fabricante de guitarras, a empresa de investimentos Weston Presidio está atrás de uma saída. Em março, ela pressionou a Fender a abrir o capital provocando boatos de que a empresa seria vendida. A situação foi constrangedora porque os investidores se mostraram hesitantes. Eis o “x” da questão.
Os tempos mudaram e a música também. Nos anos 50, 60 e 70, as guitarras elétricas alimentavam o rock e a música pop. Hoje, mesas e baterias eletrônicas produzem hip-hop. Jogos de vídeo game como Guitar Hero ajudaram a sustentar as vendas, mas os adolescentes que antes desejavam desesperadamente uma guitarra, agora fazem música nos laptops.
Durante a crise, a venda de todos os tipos de instrumentos musicais despencaram, e ainda não se recuperaram totalmente. No ano passado, esse mercado movimentou US$ 6,5 bilhões – 13% menos do que o auge, em 2005. Sem contar que as guitarras chinesas custam uma pequena fração de uma Fender.
Embora já produza linhas mais baratas no exterior, o fato é que a fabricante está com as margens pressionadas. As dificuldades financeiras também já atingiram outra empresa americana do setor, a Guitar Center, maior cadeia de lojas de instrumentos musicais do mundo. Assim como a Fender, ela é controlada por um fundo de private equity – a Bain Company.
A Guitar Center é responsável por cerca de um sexto das vendas da Fender – e os vínculos entre as duas são profundos. O diretor executivo da Fender, Larry Thomas, dirigia a Guitar Center. Ele vendeu a empresa em 2007 para a Bain por US$ 2,1 bilhões. Desde então, a varejista vem perdendo dinheiro. A Moody’s já rebaixou a classificação de risco da companhia duas vezes.
História. Em 1965, Leo Fender vendeu sua empresa para a CBS por US$ 13 milhões. Os cortes de custos que vieram a seguir levaram a uma queda considerável da qualidade e das vendas. Ao mesmo tempo, a japonesa Yamaha ganhou mercado com guitarras de qualidade e muito mais baratas. Em 1980, os problemas chegaram ao ápice quando a Fender registrou um prejuízo de US$ 10 milhões com apenas US$ 40 milhões de vendas. “Em 1970, ninguém queria um instrumento musical Yamaha, mas em 1980 a companhia começou a dominar o mercado”, diz Bill Mendello, ex-diretor da Fender e hoje membro do conselho. “E, francamente, elas eram mais bem feitas e muito mais baratas do que as produzidas nos EUA.”
Nos anos 80, Mendello, na época um dos altos executivos da divisão de instrumentos musicas da CBS, e Bill Schultz, então presidente da Fender, elaboraram um plano para salvar a empresa, que previa investimentos de US$ 50 milhões em cinco anos e a reorganização da área de marketing. Três anos depois de o plano estar em vigor, a nova administração da CBS decidiu vender a divisão de música.
Como a Fender perdia dinheiro, havia poucos compradores. A CBS chegou a pensar na possibilidade de liquidar a empresa, mas Schultz e Mendello colocaram em ação um outro plano, que finalmente tirou a empresa do vermelho. Ela recuperou a qualidade e começou a fabricar guitarras internacionalmente, principalmente no Japão e na Coreia do Sul. Leo Fender morreu em 1991 aos 81 anos. Dez anos depois, a Weston adquiriu uma participação de 43% da Fender por US$ 58 milhões.
Crise. Mendello diz que a recente recessão foi mais crucial para a Fender do que as crises passadas. “Todo o setor musical foi profundamente afetado”, afirma. “As pessoas tinham medo de comprar ou de fazer qualquer coisa porque não sabiam se teriam um emprego.” A companhia foi afetada também pela crise econômica na Europa, continente que representa 27% das vendas.
Além de já ser vista com desconfiança por analistas de Wall Street por causa da queda das vendas, a empresa virou alvo de críticas por ter feito um mau negócio em 2008. Naquele ano, a Fender comprou a KMC Music, uma distribuidora de instrumentos musicais que vêm apresentando margens de lucro muito baixas.
Foi nesse contexto, que a empresa tentou abrir o capital em março deste ano. O negócio levaria à companhia a um valor de US$ 396 milhões. Parece pouco se comparado ao valor do Facebook, mas é um preço alto para uma empresa do tamanho da Fender. Banqueiros e investidores acharam graça. A empresa tentava abrir o capital como uma companhia “de crescimento” embora suas vendas estivessem declinando. “Era um absurdo”, diz Arnold Ursaner, presidente da CJS Securities.
Em Wall Street, comentava-se que a Weston estava forçando um preço alto demais. Os executivos da Weston não quiseram comentar o fato. “Eles tinham a esperança de que ninguém prestasse atenção para a tendência negativa das vendas”, diz Ursaner. Nos documentos apresentados para a oferta pública inicial, a Fender mostrou que havia condições de crescer com a futura venda para mercados emergentes, o aumento de acordos de licenciamento e de compartilhamento de marcas e aquisições estratégicas.
Apesar da situação embaraçosa, Mendello não descarta uma futura oferta pública. Segundo ele, a Fender deve tentar abrir o capital mais cedo do que se imagina, porque cerca de US$ 237 milhões dos seus US$ 246 milhões em dívida de longo prazo vencerão em 2014. Mendello, que possui 4,8% da Fender, afirma que nem ele nem os outros acionistas da companhia estão preocupados em lucrar. “Faremos o que for bom para a Fender.”