Em 06/11/2012 às 17h13 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
Com o lema “Um olfato, nossos olhos”, o Canil Central da Polícia Civil de Minas Gerais apoia, desde 1992, operações policiais para a localização de entorpecentes. Atualmente, o canil atende solicitações de todas as unidades da Polícia Civil e não somente da Divisão de Tóxicos e Entorpecentes, como acontecia antes.
A primeira equipe foi formada por investigadores que se prontificaram a trabalhar com cães, entre eles o atual coordenador do canil, Alexandre Andrade, que doou os primeiros animais, dois filhotes de Pastor Belga Malinois, para treinamento.
Desde o início, a equipe manteve uma relação próxima com agentes do Canil da Polícia Federal em Belo Horizonte, que foram enviados à Inglaterra para aprender a trabalhar com cães de faro e haviam trazido alguns desses animais treinados.
Os investigadores também buscaram conhecimento em cursos, seminários e leitura de livros específicos sobre treinamento de cães de trabalho policial. O atual coordenador do Canil da Polícia Civil obteve, em 1998, Certificado de Estágio de Formação de Cães Farejadores, realizado pelo Canil Central da Polícia Federal, e hoje treina os policiais que entram para a equipe.
Cães farejadores
Atualmente, o Canil Central da Polícia Civil conta com sete policiais e 15 cães, dos quais seis estão aptos para o trabalho, dois são mantidos como matriz e os outros estão em treinamento. Todos os cães foram adquiridos por meio de doação de policiais ou de terceiros. Não há preferência entre machos ou fêmeas para o treinamento.
De acordo com o investigador e adestrador de cães, Charlie Arthury, um policial pode ter mais de um cão, mas um cão pode ter apenas um dono. “O vínculo entre o cão e o policial é muito importante, pois em uma operação a interação entre ambos garante a concentração e o bom desempenho do animal”, explica.
A raça predominante é o Pastor Belga Malinois, raça original da Europa e usada pela polícia e exército de vários países. O canil conta também com pastores alemães e labradores. Essas raças são escolhidas por serem cães de faro apurado que possuem habilidade técnica e instinto de caça, além do porte físico grande e atlético, ideal para as operações policiais.
Animais em forma
O treinamento começa quando o filhote completa 60 dias e consiste em brincadeiras comuns a cães, com brinquedos como bolinhas e cordas. Daí inicia-se a interação entre o policial e o animal, a exercitação física diária e, posteriormente, os comandos de obediência.
No treinamento de obediência, o cão aprende os comandos como aguardar, sentar e deitar. É também um treinamento de concentração, para que o cão não fique disperso em um ambiente diferente com muitas pessoas durante uma ação policial. “Não exigimos do cão mais do que os comandos simples necessários para um bom desempenho no local do trabalho. Prezamos que ele tenha mais liberdade”, comenta o investigador integrante do canil, Alexandre Soares.
Alguns meses após o início do treinamento, os policiais começam o exercício para localizar drogas. Um novo brinquedo, um tubo de PVC lacrado com entorpecentes no interior, é inserido no cotidiano do cão. O animal não tem contato direto com a droga, apenas sente o odor. Quando o brinquedo é escondido, o cão o encontra pelo cheiro da droga.
De acordo com o policial da equipe do canil, Frederico Esteves, “quando o cão procura drogas, ele está, na verdade, procurando seu brinquedo.” Ao encontrar o entorpecente, o animal faz um sinal arranhando e mordendo o local. O investigador responsável pelo cão deve recompensá-lo com um brinquedo e afastá-lo do lugar para que outros policiais recolham a droga encontrada.
Após o início do treinamento, o cão é avaliado por um período de seis meses a um ano. No entanto, nem todos os cães apresentam o perfil necessário para prosseguir com o treino.
Os cães se exercitam todos os dias e, além do treinamento habitual, é comum os policiais levarem os cães para nadar e caminhar, o que contribui para manter um bom condicionamento físico e mental do animal.
O canil conta com um veterinário à disposição e tratamento quando necessário. Nenhum animal recebe medicamentos ou vitaminas para o desempenho das atividades. Além de uma ração balanceada e vacinas em dia, cada cão possui uma coleira de proteção contra a leishmaniose.
Em ação
Os cães são treinados para encontrarem drogas como maconha, cocaína, crack e derivados são solicitados em operações onde existe maior dificuldade para os policiais encontrarem os entorpecentes.
Os cães já encontraram substância entorpecente enterrada dentro de paredes, televisão e forro de porta, além de localizarem drogas escondidas dentro de um saco com café, que usaram para tentar camuflar o odor. Já encontraram também armas e dinheiro escondidos, por terem sido manuseados por alguém que lidava com drogas.
Em uma operação realizada na zona rural de Nova Serrana, Centro-Oeste de Minas, quatro cães foram levados para vistoriar uma área de três quilômetros quadrados. Após exaustivas buscas, um dos cães desenterrou um vasilhame plástico que continha grande quantidade de cocaína, munições e arma de fogo.
Aposentadoria
Os cães são aposentados ao atingirem os sete anos de idade ou quando sofrem algum trauma que o impossibilite de prosseguir com os trabalhos. Os aposentados, assim como os que não possuem perfil para prosseguir com o treinamento, são mantidos pelo Estado e isentos de qualquer prestação de serviço ou atividade até o fim de sua vida.
Os animais também podem ser doados, priorizando o policial responsável pelo cão durante seu tempo no canil. Entre a equipe, o pensamento é unânime: “depois de passar sete anos com o cão, não conseguimos entregá-lo a outra pessoa”.
Fonte e foto: Agência Minas