Em 02/11/2012 às 21h00 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
Dentro de aproximadamente um ano, a Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec) concluirá a produção de material de referência para realização de análises que validam a presença de alumínio no sangue, o que evitará que o Brasil continue importando o produto de outros países. O processo, realizado por meio do Laboratório de Traços Metálicos, mais conhecido como “Sala Limpa”, vem sendo implementado desde 2010 e é considerado fundamental para assegurar a confiabilidade dos resultados gerados por laboratórios de análises.
A pesquisadora do Cetec, Olguita Ferreira, explica que, no Brasil, não existe material de referência para realização de análises de alumínio em sangue e a importação é onerosa e muito difícil devido ao transporte de material biológico. Daí a importância da “Sala Limpa”.
Criada com aportes da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), a Sala Limpa é considerada a mais bem equipada do Brasil e uma referência na análise dos produtos para hemodiálise. Entre 2008 e 2012, o número de clientes que demandam serviços do Cetec aumentou 90%, saltando de 107 para 204. Entre os clientes estão centros de terapia renal substitutiva, empresas produtoras de soluções para hemodiálise e pacientes em tratamento de hemodiálise.
“Realizamos análises para centros de diálise em hospitais das redes pública e particular, do Amazonas ao Rio Grande do Sul”, conta a pesquisadora. Segundo ela, o alumínio, quando presente em nível elevado no sangue, pode causar doenças ósseas, problemas de crescimento e até mesmo demência.
No laboratório, também é realizado o controle de contaminação de análises nas áreas de alimentos, meio ambiente, produção industrial e eletroeletrônica. Os ensaios de metais em água das principais bacias hidrográficas que abastecem Minas Gerais também é analisada na Sala Limpa.
Controle rígido do ambiente
A Sala Limpa é dividida em quatro ambientes interligados, que totalizam uma área de 90 metros quadrados. O conceito desse tipo de laboratório é que ele seja livre de partículas externas para que o resultado das análises seja o mais confiável possível. Para isso, é realizado um controle rigoroso dos materiais que são utilizados no local. As amostras a serem analisadas, por exemplo, são coletadas em recipientes previamente descontaminados, fornecidos pelo Cetec.
Os cuidados com o laboratório, contudo, são muito mais complexos do que apenas a limpeza do material usado. Para trabalhar na Sala Limpa, os nove pesquisadores do local cumprem uma série de exigências, como não usar cosméticos ou fumar. O tabagismo é proibido na equipe, já que o fumante emite partículas até três horas após o consumo do cigarro.
Pessoas mais inquietas também não são ideais para o trabalho dentro desse laboratório especial. “Uma pessoa muito agitada movimenta partículas. Para se ter ideia, sentando e levantando, uma pessoa libera 2,5 milhões de partículas por minuto. Sentado, sem movimento, 100 mil; caminhando a 3km/h, 5 milhões de partículas”, explica a coordenadora da Sala Limpa, Olguita Rocha.
Os pesquisadores também não podem usar acessórios pessoais, como brincos, relógios, adornos e sapatos comuns dentro da sala. O uniforme especial utilizado funciona como um filtro do corpo, que impede a dispersão de partículas. O traje é limpo em uma lavanderia instalada na ante-sala do laboratório. Os profissionais utilizam um uniforme específico para cada um dos quatro módulos da sala, que possuem diferentes níveis de retenção de partículas. No módulo de maior controle de contaminação, a equipe trabalha com apenas os olhos e nariz descobertos.
Cinquenta trocas de ar por hora
Se as exigências para a entrada dos profissionais são rígidas, o cuidado com o ar é tão importante quanto elas. A Sala Limpa tem controle de temperatura, umidade e do ar ambiente realizado por meio de meio de filtros apropriados. Na parte externa do prédio em que o laboratório está instalado, há uma casa de máquinas com duas baterias de filtros que impedem a entrada de partículas grossas e finas.
Ainda antes de chegar à sala, o ar passa por uma terceira etapa de filtragem. A Sala Limpa conta com 14 dutos de entrada do ar com baixa velocidade, para evitar a suspensão de partículas que eventualmente sejam geradas. Esse ar varre a sala e é retirado por grelhas posicionadas no nível do piso.
Para manter a taxa de oxigênio do ar, há uma caixa de mistura em que é colocado 30% a mais de ar novo filtrado. Acontecem aproximadamente 50 trocas de ar por hora. Além disso, existem "ilhas" de trabalho com fluxo laminar que dispõem de filtros absolutos que retiram o ar por um sistema de dutos e com uma bancada perfurada para garantir a renovação de todo ar. Essas medidas garantem um nível de limpeza do ar que impede a contaminação das amostras e dos pesquisadores, uma vez que se trata de uma capela de segurança biológica com fluxo laminar.
Fonte: Agência Minas