Em 30/10/2012 às 13h19 | Atualizado em 27/07/2018 às 17h22
O Banco do Japão, banco central do país, impulsionou seu estímulo monetário pelo segundo mês seguido nesta terça-feira, em resposta à intensa pressão política para ação e aumentando as evidências de que a terceira maior economia do mundo está à beira da recessão.
Numa ação amplamente esperada, o banco central aumentou seu programa de compra de ativos e de empréstimos, sua principal ferramenta de afrouxamento monetário, em 11 trilhões de ienes (138 bilhões de dólares), para 91 trilhões de ienes.
Essa foi a primeira vez desde 2003 que o conservador BC afrouxou a política por dois meses seguidos. Em outra ação rara, o banco central divulgou um comunicado juntamente com o governo, prometendo esforços combinados para tirar o Japão da deflação.
Dando mais um passo no território heterodoxo, o BC também revelou um plano para abastecer os bancos com quantidades ilimitadas de fundos baratos e de longo prazo, sob um novo esquema inicialmente visto com um montante de 15 trilhões de ienes.
Mas nem a linguagem mais forte do BC nem seu novo esquema conseguiram impressionar os analistas, que esperam que a pressão por mais afrouxamento monetário persista.
"O problema não é a capacidade dos bancos de emprestar. O problema é a falta de demanda por empréstimos devido à deflação e à taxa de câmbio valorizada", afirmou o economista-chefe para o Japão do Bank of America Merrill Lynch, em Tóquio, Masayuki Kichikawa. "Os mercados continuarão esperando mais do BOJ (banco central do Japão, na sigla em inglês)."
O presidente do BC, Masaaki Shirakawa, reconheceu que sinais piores de economias internacionais foram o principal motivo para este último afrouxamento, que seguiu-se a um estímulo de tamanho semelhante, no valor de 2 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) do país, em setembro.
"Nós estávamos cientes da desaceleração global em setembro. Mas os desdobramentos desde então mostraram que a desaceleração está, de fato, aprofundando-se", disse ele em entrevista.
As exportações caíram e a produção industrial japonesa sofreu a maior queda desde o terremoto do ano passado, ao passo que a crise da dívida europeia e a desaceleração do crescimento chinês feriram o humor do empresário, aumentando os pedidos de políticos para dar mais estímulo monetário a fim de evitar uma recessão.
Ampliando a pressão sobre o banco central está sua promessa feita em fevereiro de alcançar inflação de 1 por cento, e sua admissão de que precisará de mais tempo para conseguir isso.
Como amplamente esperado, o BC cortou suas previsões de crescimento em sua revisão semestral e projetou que a inflação ao consumidor atingirá apenas 0,8 por cento no ano até março de 2015 --que ainda excede em muito as estimativas do setor privado de crescimento perto de zero.
SHIRAKAWA CONTRA-ATACA
Numa ação rara destacando o furor político, o ministro da Economia, Seiji Maehara, participou da reunião do BC nesta terça-feira para fazer um pedido direto por mais afrouxamento.
Isso resultou no comunicado conjunto entre o BC e o governo, no qual ambos os lados pediram um ao outro para tomar medidas a fim de combater a deflação e impulsionar o potencial de crescimento do Japão.
"O banco central continuará com afrouxamento monetário forte, visando inflação de 1 por cento", informou a autoridade monetária no comunicado conjunto com o governo, o primeiro lançado desde que a lei revisada da autoridade monetária garantindo sua independência passou a vigorar em 1998.
Shirakawa, no entanto, disse que o comunicado conjunto --assinado pelos ministros das Finanças e da Economia-- também coloca o ônus sobre o governo para implementar reformas estruturais e desregulamentação para tornar o Japão um país mais atrativo para investimentos.
"O fato de fazermos esse comunicado conjunto tem um significado importante para o governo, que deixou claro que irá tomar ações vigorosas para impulsionar o potencial de crescimento do Japão", disse ele.
Muitos analistas concordam com o BC de que simplesmente injetar dinheiro nos mercados --já inundados com excesso de fundos-- terá pouco efeito direto de estimular a economia.
Os empréstimos bancários subiram apenas 1 por cento no até setembro, mesmo com o BC injetando mais de 60 trilhões de ienes até agora por meio de seu programa de compra de ativos e de empréstimos, uma vez que as empresas continuam relutantes em emprestar para investimentos devido ao cenário obscuro.
Fonte: Reuters