22/03/2017 às 15h53m


Uma história de Amor

Vou contar-lhes esta história, porque quem disser que não quer ser amado está doente ou mentindo. Ela começa na Bahia, cruza o sul do país e tem belo desfecho no Rio de Janeiro.

Em 27/1, meus pais, Bruno (1911-2000) e Idalina Cecília (1913-1994), se estivessem entre nós, completariam mais um ano de feliz casamento.

Peço licença a vocês para narrar o autêntico conto de amor que ambos viveram, modelo de perseverança e superação para os que se gostam.

Conheceram-se em Camaçari. Hoje, um dos mais importantes polos petrolíferos do Brasil. Ele tinha 9 anos de idade. Ela estava com 7. Quando cresceram, a família foi contra o namoro por serem primos. Não que fossem pessoas ruins, temiam o grau de parentesco. Então, colocaram meu pai num seminário e mandaram minha mãe, ainda jovem, para o Rio de Janeiro. Passam-se muitos anos, quando meu velho, já sem batina, também vai para a Cidade Maravilhosa. Entretanto, não a encontra nessa primeira tentativa. Desiludido, viaja por várias regiões do país, incluído o sul. Longe de seu verdadeiro amor, volta ao Rio decidido a localizá-la.

Certo dia, na capital carioca, o querido e consagrado compositor e cantor Dorival Caymmi (1914-2008), conhecido deles desde a infância, topa com seu Bruno e lhe diz, com seu sotaque bem baiano: "Ô Ioiô, você sabe quem encontrei? Idalina!! Ela veio, com uma prima, aqui na rádio. Está morando na rua Gregório Neves, no Engenho Novo". Meu pai não titubeou e dirigiu-se ao endereço indicado por Caymmi. Chegando lá, foi recebido pela minha tia-avó, Amália. Ao vê-lo, ela se vira para dentro de casa e chama em alta voz: "Idalina, o seu primo da Bahia está aqui! Ele veio casar com você!". E um dado curioso é que, um mês antes desse reencontro, minha mãe terminara seu noivado forçado com um médico. Naquele tempo, o poder patriarcal era uma parada!

Idalina e Bruno uniram-se em 1940, vinte anos depois que se viram pela primeira vez. Adivinhem quem foi o padrinho de casamento? O saudoso Dorival Caymmi, privilegiado marido de Dona Stella Maris (1922-2008) e ditoso pai de Nana, Dori e Danilo, e que sempre encantou as plateias.

Observando o grande exemplo de meus amados pais, relembro, com Lícia (1942-2010), minha irmã, algumas palavras que publiquei em Reflexões e Pensamentos — Dialética da Boa Vontade, lançado em 1987: Assim como o sangue, circulando pelo corpo, oxigeniza e alimenta as células humanas, o Amor, percorrendo os mais recônditos pontos de nossa Alma, fertiliza-a e a torna plena de vida. (...) Ao término de tudo, ele — que se expressa das mais surpreendentes formas no sublime labor de conduzir os homens à sobrevivência — vencerá! Prosseguimos acreditando na vitória final do Espírito Eterno do ser humano, "a Obra Máxima do Criador", na definição de Alziro Zarur (1914-1979).

E parabéns ao nosso estimado Caymmi que, se estivesse na carne comemoraria mais um aniversário, em 30 de abril (ele nasceu em 1914). Caymmi e dona Stella Maris continuam vivos, pois os mortos não morrem.


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Autor: Paiva Netto

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16/03/2017 às 10h13m


Transformar dor em vitória

Não duvidemos de nossa capacidade, como seres espirituais e humanos, de alcançar o hoje considerado insuperável. Temos muito mais aptidão para sobrepujar problemas, por maiores que os julguemos, segundo avalia o médico, psicólogo, filósofo e escritor norte-americano William James (1842-1910): "A maioria das pessoas vive física, intelectual ou moralmente num círculo muito restrito do seu potencial. Faz uso de uma parte muito pequena da sua possível consciência e dos recursos da sua alma em geral, assim como um homem... que se habitua a usar e a mover somente o seu dedo mínimo. Grandes emergências e crises nos mostram como os nossos recursos vitais são muito maiores do que supúnhamos".

Se as dificuldades são maiores, superiores serão os nossos talentos para suplantá-las. Se desse modo não fosse, onde estaríamos hoje caso os que nos antecederam, pelos séculos, se acovardassem? A pior tragédia é desistir por causa das adversidades do mundo. É falhar, portanto, com aqueles que confiam em nós. Os que vieram antes — com o combustível da Fé — sublimaram dor em vitória.




Autor: Paiva Netto

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10/03/2017 às 15h49m


Religião não rima com intolerância

Em 21 de janeiro, celebra-se o Dia Mundial da Religião. Na Folha de S.Paulo, década de 1980, arguido por um leitor, ponderei que não vejo Religião como ringues de luta livre, nos quais as muitas crenças se violentam no ataque ou na defesa de princípios, ou de Deus, que é Amor, portanto, Caridade, e que, por isso, não pode aprovar manifestações de ódio em Seu Santo Nome nem precisa da defesa raivosa de quem quer que seja. Alziro Zarur (1914-1979) dizia que "o maior criminoso do mundo é aquele que prega o ódio em nome de Deus".

Compreendo Religião como Fraternidade, Generosidade, Solidariedade, Respeito à Vida Humana, Iluminação do Espírito, que todos somos. Entendo Religião como algo dinâmico, vivo, pragmático, altruisticamente realizador, que abre caminhos de luz nas Almas, e que, por essa razão, deve estar na vanguarda ética. Não a vejo como coisa abúlica, nefelibata, afastada do cotidiano de luta pela sobrevivência que sufoca as massas. Não a entenderia, se não atuasse também de modo sensato na transformação das realidades tristes que ainda atormentam os povos. Esses, cada vez mais, andam necessitados de Deus, que é antídoto para os males espirituais, morais e, por consequência, os sociais, incluídos o imobilismo, o sectarismo e a intolerância degeneradores, que obscurecem o Espírito das multidões. (...) E, de maneira alguma, devem-se excluir os ateus de qualquer providência que venha beneficiar o mundo.

Deus, Sabedoria e Entendimento
Religião, como sublimação do sentimento, é para tornar o ser humano melhor, integrando-o no seu Criador, pelo exercício da Fraternidade e da Justiça entre as Suas criaturas. O Pai Celestial é fonte inesgotável de Sabedoria e Entendimento, quando não compreendido como caricatura, estereótipo, ódio, vingança, porquanto "Deus é Amor" (Primeira Epístola de João, 4:8), sinônimo de Caridade.

Com apurado senso de oportunidade, preconiza o Profeta Muhammad (570-632) — "Que a Paz e as bênçãos de Deus estejam sobre ele" — no Corão Sagrado: "Cremos no que nos foi revelado e no que vos foi revelado. Nosso Deus e vosso Deus é o mesmo. A Ele nos submetemos".

Vêm-me à lembrança estas palavras de Santa Teresa d’Ávila (1515-1582): "Procuremos sempre olhar as virtudes e as coisas boas que virmos nos outros e tapar-lhes os defeitos com os nossos grandes pecados".

Religião na vanguarda
Tudo evolui. Ontem os homens diziam, por exemplo, que a Terra era chata, afirmava-se que o nosso planeta seria o centro do Universo. Por que então as religiões teriam de estacionar no tempo? Pelo contrário, Religião, quando sinônimo de Solidariedade e Misericórdia, tem de iluminar harmoniosamente os demais estratos do pensamento. Bem a propósito esta meditação do nada menos que cético Voltaire (1694-1778): "A tolerância é tão necessária na política como na religião. Só o orgulho é intolerante". (...)

Para amainar a frieza de coração
Cabe ainda recordar esta máxima abrangente de Zarur: "Religião, Filosofia, Ciência e Política são quatro aspectos da mesma Verdade, que é Deus".

Ora, querer conservar esses ramos do saber universal confinados em departamentos estanques, ou em preconceituosa conflagração, tem sido a origem de muitos males que nos assolam, em especial tratando-se de Religião, entendida no mais alto sentido. É principalmente de sua área que deve provir o espírito solidário, que, se às demais faltando, resulta na frieza de sentimentos que tem caracterizado as relações humanas, nestes últimos tempos.

Educação com Espiritualidade Ecumênica
A ausência de Solidariedade, de Fraternidade, de Generosidade tem suscitado grande defasagem entre progresso material e amadurecimento moral e espiritual. (...) Mas é sempre hora de aplacar ressentimentos. Contudo, não haverá Paz enquanto persistirem cruéis discriminações e desníveis sociais criminosos, provocados pela ganância, que, por meio de eficiente Educação com Espiritualidade Ecumênica, devemos combater. Se não optarmos por caminhos semelhantes, estaremos sentenciados à realidade denunciada pelo Gandhi (1869-1948): "A menos que as grandes nações abandonem seu desejo de exploração e o espírito de violência, do qual a guerra é a expressão natural e a bomba atômica a consequência inevitável, não há esperança de paz no mundo".

A solução está em Deus
Sempre um bom termo pode surgir quando os indivíduos nele lealmente se empenham. E isso tem feito que a civilização, pelo menos o que vemos por aí como tal, milagrosamente sobreviva aos seus piores tempos de loucura. A sabedoria do Talmud dá o seu recado prático: "A Paz é para o mundo o que o fermento é para a massa". Exato.

Há quem prefira referir-se ao espírito religioso, exaltando desvios patológicos ocorridos no transcorrer dos milênios. (De modo algum incluo nestes comentários os historiadores e analistas de bom senso.) Creio que essa conduta beligerante, que manchou de sangue a História, deva ser distanciada de nossos corações, por força de atos justos, porquanto maiores são as razões que nos devem confraternizar do que as que servem para acirrar rancores. O ódio é arma voltada contra o peito de quem odeia. Muito oportuna, pois, esta advertência do pastor Martin Luther King Jr. (1929-1968), que não negou a própria vida aos ideais que defendeu: "Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não a arte de conviver como irmãos".

O milagre que Deus espera dos seres espirituais e humanos é que aprendam a amar-se, para que não ensandeçam de vez, como na pesquisa para o uso bélico da antimatéria.

O melhor altar para a veneração do Criador são Suas criaturas. Torna-se urgente que a Humanidade tenha humanidade.


www.boavontade.com 

Autor: Paiva Netto

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04/03/2017 às 10h29m


Religião não rima com intolerância

Em 21 de janeiro, celebra-se o Dia Mundial da Religião. Na Folha de S.Paulo, década de 1980, arguido por um leitor, ponderei que não vejo Religião como ringues de luta livre, nos quais as muitas crenças se violentam no ataque ou na defesa de princípios, ou de Deus, que é Amor, portanto, Caridade, e que, por isso, não pode aprovar manifestações de ódio em Seu Santo Nome nem precisa da defesa raivosa de quem quer que seja. Alziro Zarur (1914-1979) dizia que "o maior criminoso do mundo é aquele que prega o ódio em nome de Deus".

Compreendo Religião como Fraternidade, Generosidade, Solidariedade, Respeito à Vida Humana, Iluminação do Espírito, que todos somos. Entendo Religião como algo dinâmico, vivo, pragmático, altruisticamente realizador, que abre caminhos de luz nas Almas, e que, por essa razão, deve estar na vanguarda ética. Não a vejo como coisa abúlica, nefelibata, afastada do cotidiano de luta pela sobrevivência que sufoca as massas. Não a entenderia, se não atuasse também de modo sensato na transformação das realidades tristes que ainda atormentam os povos. Esses, cada vez mais, andam necessitados de Deus, que é antídoto para os males espirituais, morais e, por consequência, os sociais, incluídos o imobilismo, o sectarismo e a intolerância degeneradores, que obscurecem o Espírito das multidões. (...) E, de maneira alguma, devem-se excluir os ateus de qualquer providência que venha beneficiar o mundo.

Deus, Sabedoria e Entendimento
Religião, como sublimação do sentimento, é para tornar o ser humano melhor, integrando-o no seu Criador, pelo exercício da Fraternidade e da Justiça entre as Suas criaturas. O Pai Celestial é fonte inesgotável de Sabedoria e Entendimento, quando não compreendido como caricatura, estereótipo, ódio, vingança, porquanto "Deus é Amor" (Primeira Epístola de João, 4:8), sinônimo de Caridade.

Com apurado senso de oportunidade, preconiza o Profeta Muhammad (570-632) — "Que a Paz e as bênçãos de Deus estejam sobre ele" — no Corão Sagrado: "Cremos no que nos foi revelado e no que vos foi revelado. Nosso Deus e vosso Deus é o mesmo. A Ele nos submetemos".

Vêm-me à lembrança estas palavras de Santa Teresa d’Ávila (1515-1582): "Procuremos sempre olhar as virtudes e as coisas boas que virmos nos outros e tapar-lhes os defeitos com os nossos grandes pecados".

Religião na vanguarda
Tudo evolui. Ontem os homens diziam, por exemplo, que a Terra era chata, afirmava-se que o nosso planeta seria o centro do Universo. Por que então as religiões teriam de estacionar no tempo? Pelo contrário, Religião, quando sinônimo de Solidariedade e Misericórdia, tem de iluminar harmoniosamente os demais estratos do pensamento. Bem a propósito esta meditação do nada menos que cético Voltaire (1694-1778): "A tolerância é tão necessária na política como na religião. Só o orgulho é intolerante". (...)

Para amainar a frieza de coração
Cabe ainda recordar esta máxima abrangente de Zarur: "Religião, Filosofia, Ciência e Política são quatro aspectos da mesma Verdade, que é Deus".

Ora, querer conservar esses ramos do saber universal confinados em departamentos estanques, ou em preconceituosa conflagração, tem sido a origem de muitos males que nos assolam, em especial tratando-se de Religião, entendida no mais alto sentido. É principalmente de sua área que deve provir o espírito solidário, que, se às demais faltando, resulta na frieza de sentimentos que tem caracterizado as relações humanas, nestes últimos tempos.

Educação com Espiritualidade Ecumênica
A ausência de Solidariedade, de Fraternidade, de Generosidade tem suscitado grande defasagem entre progresso material e amadurecimento moral e espiritual. (...) Mas é sempre hora de aplacar ressentimentos. Contudo, não haverá Paz enquanto persistirem cruéis discriminações e desníveis sociais criminosos, provocados pela ganância, que, por meio de eficiente Educação com Espiritualidade Ecumênica, devemos combater. Se não optarmos por caminhos semelhantes, estaremos sentenciados à realidade denunciada pelo Gandhi (1869-1948): "A menos que as grandes nações abandonem seu desejo de exploração e o espírito de violência, do qual a guerra é a expressão natural e a bomba atômica a consequência inevitável, não há esperança de paz no mundo".

A solução está em Deus
Sempre um bom termo pode surgir quando os indivíduos nele lealmente se empenham. E isso tem feito que a civilização, pelo menos o que vemos por aí como tal, milagrosamente sobreviva aos seus piores tempos de loucura. A sabedoria do Talmud dá o seu recado prático: "A Paz é para o mundo o que o fermento é para a massa". Exato.

Há quem prefira referir-se ao espírito religioso, exaltando desvios patológicos ocorridos no transcorrer dos milênios. (De modo algum incluo nestes comentários os historiadores e analistas de bom senso.) Creio que essa conduta beligerante, que manchou de sangue a História, deva ser distanciada de nossos corações, por força de atos justos, porquanto maiores são as razões que nos devem confraternizar do que as que servem para acirrar rancores. O ódio é arma voltada contra o peito de quem odeia. Muito oportuna, pois, esta advertência do pastor Martin Luther King Jr. (1929-1968), que não negou a própria vida aos ideais que defendeu: "Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não a arte de conviver como irmãos".

O milagre que Deus espera dos seres espirituais e humanos é que aprendam a amar-se, para que não ensandeçam de vez, como na pesquisa para o uso bélico da antimatéria.

O melhor altar para a veneração do Criador são Suas criaturas. Torna-se urgente que a Humanidade tenha humanidade.



Autor: Paiva Netto

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Perfil

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta, nasceu em 2 de março de 1941, no Rio de Janeiro/RJ. É diretor-presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central.
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